sexta-feira, 18 de abril de 2003

Vocês já repararam que, invariavelmente, o ano que está por findar nos traz a nítida impressão de que passou mais rápido do que o ano que o antecedeu; e que este, por sua vez, fora mais rápido do que o anterior, e assim por diante?



Pois eu tenho uma teoria sobre isso (ai, ai, ai, sai de perto! He, he, he...):

Como tudo é relativo, obviamente que o tempo não poderia deixar de sê-lo. A nossa noção de tempo é, impreterivelmente, baseada no tempo que já experimentamos, ou seja, o tempo que vivemos até então. Não há como ser diferente. Essa é a única amostragem de tempo com que tivemos contato e, ao vivê-lo no seu transcorrer, nosso relógio biológico se ajusta e se aperfeiçoa. O tempo não é um conhecimento puro (a priori, como diria Kant), mas sim um conhecimento absolutamente empírico (a posteriori), tendo por base única e exclusivamente a experiência. Conhecemos o tempo na prática, não na teoria. Portanto nosso parâmetro de tempo é todo o tempo que vivemos até o presente momento.



Agora, por que cada ano que vivemos parece passar mais rapidamente do que o anterior?

Porque cada novo ano representa uma fração menor de tempo em nossa vida (lembrem que o tempo de vida é o nosso parâmetro de tempo). Nossa existência é o esteio da nossa noção de tempo e comparada a ela é que mensuramos cada segundo de nossas vidas.



Exemplifiquemos para simplificar:

Joãozinho tem um ano de idade. Um ano significa para ele toda a sua existência. Joãozinho completa dois anos de idade. O que representa para Joãozinho este ano a mais na sua vida? Representa 50% de sua existência até então! Perceberam o quão lentamente deve ter passado este "um ano" na vida de Joãozinho, já que toda a noção de tempo que ele possuía era o "um ano" que vivera até então?

João tem 49 anos de idade, muita experiência e maturidade. Passa-se um ano e ele chega aos 50. Quanto tempo levou esse "um ano" na vida de João? Se sua noção de tempo é baseada, de forma absolutamente empírica, no seu tempo de vida, o parâmetro indiscutível são os seus 50 anos de existência. Um ano, então, representa a qüinquagésima parte da sua vida, 1/50 avos do seu tempo de existência. Uma fração bem menor do que os 50% de Joãozinho. Este ano passou rapidamente para João, mais rápido do que fora o ano anterior e muitíssimo mais rápido do que fora, para Joãozinho, este mesmo ano.



Não se aprende (ou apreende) o tempo na escola ou em livros e cartilhas. O tempo não é teórico, é prático. Não se explica, sente-se o seu transcorrer e os efeitos que dele resultam e, daí sim, formamos a noção que temos de tempo. Quanto mais vivemos mais aprendemos sobre ele.



Acho que consegui deixar claro o porquê de, ao meu ver, quanto mais velhos ficamos, aumentar a impressão de que o tempo passa mais rápido. É uma progressão geométrica. Os anos vão encolhendo e as angústias, oriundas do temor à morte, aumentando.



P. S.: Ô louco!! De onde é que eu tirei isso?! Mente ociosa, terreno fértil para devaneios. Fazem parte. Registremo-los, então.

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