terça-feira, 22 de março de 2005

ADROALDO

Adroaldo era seu nome. Nome de uma sonoridade incrível e que, ao ser pronunciado, metaforicamente, enche a boca de qualquer falante. Adroaldo da Silva, simplesmente. Nome sui generis e sobre-nome popular. Adroaldo detestava seu nome.

Adroaldo passara toda a sua existência conjecturando, supondo, presumindo e refletindo sobre os prováveis motivos que teriam levado seus pais à escolha de tão singular graça para o rebento único da família. "Serei eu resultado de uma gravidez não desejada que, por muito pouco, não resultou em aborto? E sendo assim, como forma de vingança, colocaram-me esse nome horrendo?" Passava de tudo por sua cabeça delirante. Essa questão, para Adroaldo, tornou-se de vital importância. Mas por mais que tentasse descobrir, nunca chegara sequer próximo de alguma explicação que o contentasse. Sua vida era uma agonizante busca pela verdade - pela sua verdade. Suas noites eram de sono intranqüilo e pesadelos inquietantes que, invariavelmente, tinham por enredo aquele nome: Adroaldo! Já tornara-se um caso clássico de obsessão irracional.

E assim passaram-se os anos até que veio ao mundo o primogênito de Adroaldo. Um garotão forte e saudável, muito parecido fisicamente com a mãe - Adroaldo agradeceu a Deus por isso -, mas com um olhar curioso, arguto e perspicaz - característica inegavelmente herdada do pai, concordaram todos.

No dia do batismo, com a criança em seu colo, Adroaldo suspirou profundamente e, incrivelmente aliviado, pensou consigo mesmo: "Enfim, paz. Agora é contigo, Adroaldinho!"
AMNÉSIA
Disseram-me algo. Alguém...
Lembro-me bem
Apenas não me lembro o quê
Tampouco me lembro quem
Sei da importância do dito
Por isso, Deus!, não acredito
Ficou o dito pelo não dito
Esquecimento que me convém?
DIÁLOGOS CAPTADOS

- Tu gostas de Paulo Coelho?
- (silêncio e cara de nojo...)
- Eu sabia! Nenhum homem gosta de Paulo Coelho!
- (silêncio e cara de dó...)

domingo, 20 de março de 2005

O RETRATO DE DORIAN GREY

Encerro, neste exato instante, a deleitante leitura de mais um magnífico romance da literatura universal. O Retrato de Dorian Grey, de Oscar Wilde, é um romance sui generis - ao menos dessa forma o percebi. É uma obra fantástica em ambas as acepções do termo - fantasiosa e prodigiosa! -, que, ao meu ver, pode ser dividida em duas partes.

A primeira parte, uma espécie de longa e um tanto quanto enfadonha introdução, é quase um desestímulo à leitura de tão renomada obra, causando-nos estranhamento e desconfiança quanto à grandiosidade que lhe é atribuída. Mas faz-se absolutamente indispensável para a compreensão do todo que, admitamos, é genial e surpreendente.

Jaz na segunda metade do romance a razão de ser dos capítulos iniciais e a compreensão da magnitude da obra como um todo. Lê-se com uma avidez incalculável cada um dos seus surpreendentes e fascinantes capítulos, que chocam-nos e assustam-nos na medida em que progredimos na leitura.

O desfecho, que se mantém absolutamente impenetrável até as últimas páginas da obra, é de uma imprevisibilidade mórbida e aterrorizante, mas primorosa.

A fórmula é extremamente simples, mas abordada com maestria por Oscar Wilde: um jovem que, em troca de sua alma, desejou com todas as suas forças não sofrer os efeitos do tempo e, surpreendentemente, teve o seu pedido atendido. Conseqüências? As mais horrendas possíveis. Leiam! Apenas peço-lhes que não esmoreçam, tampouco desistam da leitura, antes da primeira metade desta magnífica história. Verão que vale a pena.

sábado, 19 de março de 2005

A CURIOSA FORMA DE MORRER DE MARVIN, O MENINO EM CUJA MÃO ESQUERDA FALTAVAM TRÊS DEDOS

Morreu de tristeza, aos dez anos de idade, com a mãozinha escondida sob o casaco...

domingo, 13 de março de 2005

MUITO ALÉM DO CIDADÃO KANE


Clique com o botão direito do mouse na charge supra (após, salvar destino como) e faça o download do documentário inglês que o Dr. (Dr.?????? Há, há, há...) Roberto Marinho conseguiu banir do Brasil, proibindo a sua veiculação, e descubra o quão vil e torpe pode ser um capitalista na sua inerente avidez por poder e dinheiro. Muito Além do Cidadão Kane é um documentário fantástico que escancara a assustadora história da obscura ascensão de um dos maiores impérios de comunicação jamais visto no mundo, a Rede Globo.

Dica aos navegantes: nem se aventure a tentar baixar o arquivo caso não possua internet banda-larga, pois estamos falando de "singelos" 422M!

Outra dica: faça o download do player VLC para melhor visualizar o documentário. Os demais players revelaram-se deficientes na reprodução do arquivo.

terça-feira, 8 de março de 2005

Castiga-me com a tua ausência
Esta quase inexistência
Mas um dia saberás
Que, mesmo não estando, estás
Pois já fazes parte da minha essência
E, então, entenderás
E não mais te ausentarás
Por ora, paciência...

domingo, 6 de março de 2005

INDAGAÇÕES

E se, porventura, minhas ações, meu comportamento, sejam repletos de generosidade tão-somente para que eu possa receber em troca elogios de corpo presente que satisfaçam meu ego? E se meu egoísmo chega a tal ponto de locupletar-se orgasticamente com o reconhecimento alheio de virtudes que não possui, e somente assim dá-se por feliz? E se meu pseudo-altruísmo coloca-se sempre na ansiosa expectativa de alguma forma de gratidão após qualquer atitude generosa de sua parte, como que cobrando o seu preço?

E de que vale ser bom e magnânimo sem o devido reconhecimento? De que vale um belíssimo quadro guardado em uma velha caixa incógnita na escuridão do sótão?

E de que valem tantas perguntas sem respostas?

Pensemos nisso. As respostas virão com o tempo, talvez num sonho, talvez numa conversa franca com um amigo, talvez num solitário momento de reflexão, talvez na mesa de um bar.
O GRANDE CIRCO DA VIDA

Sou um palhaço

Um palhaço anômalo, às avessas

De viés triste e melancólico

De picadeiros vãos, vazios de sim, repletos de não

Sem nariz vermelho, sem pintura no rosto, sem pantomimas nem piadas...

Minha existência já é uma grande piada (e de muito mau gosto, eu sei)

Sou um palhaço cuja lastimosa desgraça faz brotar em lábios alheios um sorriso irônico, debochado e arrogante

Palhaço de feições patéticas e ridículas, digno apenas de escárnio e zombaria

Sou um palhaço que ri de si mesmo quando se encharca de cachaça - sua mais encantadora liberdade

E que chora por dentro quando no calabouço da sobriedade - sua mais sórdida prisão

Que chora por fora quando só

E chega a chorar sangue, até, dando dó...

Um palhaço entre tantos outros que encenam as suas tristes realidades para entreter um seleto público de tiranos

Fúteis, cruéis e mundanos

Um palhaço que sofre por não poder fazer rir o seu igual que sabe, de própria vivência, que a vida de palhaço é dor e desgosto

Sou um palhaço escravizado sob a lona do Grande Circo da Vida

Minha alforria: somente a morte

Um dia.
DIÁLOGOS CAPTADOS

- Quanto tempo tu deixaste carregando o teu celular?
- Dei três cargas de oito horas.
- Mas o teu é pré-pago ou pós-pago?
- Pós!
- O meu é pré e eu deixei vinte e quatro horas carregando!