quarta-feira, 29 de junho de 2005

É triste quando, por mais que nos esforcemos, não somos compreendidos. Ficamos à deriva, sem um porto para atracar. É desalentador.

segunda-feira, 27 de junho de 2005

Decifra-me ou devoro-te
Devora-me. Decifrar-me, jamais!
Devorando-me, decifrarei-o
Decifrando-o, decifrarei-me
Decifra-te e decifrará-me
Devorai-vos.

Guria


Genial o poema da "Guria"! Observem que ela lança mão, abusadamente e com perfeição, das mais diversas figuras de linguagem (aliteração, repetição, antítese, entre outras) dentro de um reduzido espaço de seis versos, apenas. A enigmática frase da esfinge fez, no sexteto, as vezes de pedra bruta, na qual, com as ferramentas da emoção e do sentimento, essa "Guriazinha" esculpiu com maestria o poema acima. Através de uma quase uníssona repetição de termos, traduziu-se, no meu entender, o processo mútuo de descoberta através do amor.

Parabéns, Guria!

domingo, 26 de junho de 2005

CEVADAS E CEVADAS

Pulula, aqui, no interior de minha caixa craniana – e com uma intensidade ensurdecedora – a idéia de que a tal Operação Cevada, através da qual a Polícia Federal deflagrou a grande armação fiscal por parte da Cervejaria Schincariol – que resultou em um bilhão de reais sonegados nos últimos cinco anos –, tem o dedinho invejoso e monopolizante da Ambev (bi-nacional belgo-brasileira, detentora das marcas Brahma, Antarctica, Skol, Bohemia, Polar, entre outras). Ok! Há sonegação, haja punição. Nada mais justo. O que me intriga é que, justamente a única cervejaria cem por cento brasileira, cujas fatia do mercado vinham progressivamente (ou, eu diria, ameaçadoramente) aumentando ano a ano, tenha sido alvo da tão bem sucedida operação. Ou será que a nossa cevada é diferente da deles? Não creio (ou seria essa a razão de a Nova Schin, mesmo reformulada, continuar sendo a pior cerveja do Brasil? He, he, brincadeira.). A PF está, inegavelmente, de parabéns, pois cumpriu com invejável eficiência a sua função. Acontece que nem só a Nova Schin é feita de cevada! Tô de olho!
Inseri, a título de babaquice, um reloginho bem ali, no alto, à direita. Não serve para coisa alguma, e já estou prestes a defenestrá-lo dali. Opiniões contrarias ou favoráveis, não se acanhem: exponham-nas.

quinta-feira, 23 de junho de 2005

PAZ DO MEU AMOR
(Luiz Vieira)

Você é isso, uma beleza imensa
Toda recompensa de um amor sem fim
Você é isso, uma nuvem calma
No céu de minh'alma, é ternura em mim
Você é isso, estrela matutina
Luz que descortina um mundo encantador
Você é isso, parto de ternura
Lágrima que é pura
Paz do meu amor.


Em outra ocasião, falo mais sobre este compositor que possui canções belíssimas como essa, mas que não tem, por parte da mídia imbecil, o devido reconhecimento de seu talento.

terça-feira, 21 de junho de 2005

VIDA
A VIDA É MAIS OU MENOS ISTO:
BRANCA E PRETA,
SEM SENTIDO,
INTRINCADA,
COMPLEXA,
CONFUSA,
AGUDA,
CRUA,
REAL.
EM TEMPOS DE JEFFERSONS, DELÚBIOS, MENSALÕES E CPI'S: PERTINENTE
PALAVRAS

Digamos que as palavras sejam, em diversas situações, a máscara dos pensamentos. Óbvio, admito, que esta não é a regra, pois em muitos momentos a palavra – dita ou escrita – traduz com uma nitidez fantástica exatamente aquilo que pensamos, escancara-nos a alma sem qualquer espécie de censura ou pudor. Mas, convenhamos, esse cenário não nos é muito corriqueiro.

Amiúde, e despidos de um mínimo de escrúpulos, fazemos da palavra um poderoso instrumento de nossa covardia, usando-a em nosso favor, ao encontro de nossos vis interesses e de encontro com o mais elementar dos valores morais. E se, de súbito, vem ela, a palavra proferida, acompanhada de uma contagiante – mesmo que falsa – convicção por parte de quem a disparou, aí sim ela se torna o disfarce perfeito de nossos mais torpes pensamentos.

E se a fonte, que dela faz lastimável uso, é merecedora de algum mínimo de respeito e consideração, a palavra – esta flecha pontiaguda que pode tanto saciar-nos a fome, na caça, como exterminar-nos, na guerra – adquire uma força inimaginável e atinge seu alvo com uma precisão milimétrica, surtindo seus efeitos maléficos com lamentável plenitude.

Fazer bom uso da palavra é uma arte e um exercício de sensibilidade e discernimento, pois dela se faz o bálsamo, que consola e alivia, mas também, o veneno, que corrói e deteriora.

A palavra é uma arma poderosíssima, usemo-la com sabedoria e honestidade.

sexta-feira, 17 de junho de 2005

NADA

Alguém, por favor, socorra-me, e me diga, urgentemente, por que a vida é assim, tão ácida e metálica! A frieza de teus passos, à noite, quando o frio do inverno passeia ao léu, queima os meus ossos, e chego a cogitar, farto de desesperanças, de que nada vale a pena. Nada: esta é a palavra que diz tudo e, ao mesmo tempo – já que esta é a sua acepção primária –, diz nada. Se o rumo traçado por nossos próprios compassos e esquadros – muitíssimo mal traçado, admitamos – é este que se nos apresenta, como evitá-lo? Como traçar um caminho que tangencie, que contorne tal imutável destino? Sigo meus próprios passos, como que andando em círculos, e engulo o fel que o tempo – este carrasco silencioso – deposita diariamente em minha garganta, ávida por mel e esperança. Perguntas-me, então: "Como pudeste?" Digo-te: "Não sei. Apenas o fiz." E de tal forma, e com tal êxito, que qualquer tipo de arrependimento seria, neste derradeiro instante, uma heresia monumental. Sinto que minhas pernas já não me obedecem mais. Imperativas, seguem sem rumo, ou melhor, têm o seu próprio rumo a seguir, completamente distinto do meu e contrário às minhas concepções de horizonte. Conduzem-me ao fim. E o fim é o nada: o começo de tudo.

terça-feira, 14 de junho de 2005

BILAC

Mais um duelo pessoalíssimo em que me saio indiscutível vencedor. Acabei de realizar mais um prova de Teoria Literária I, na qual, creio, saí-me muitíssimo bem (como já me é rotina). Mas, deixando de lado minha total falta de modéstia, vamos ao que me levou a traçar estas mal-traçadas (o pleonasmo, aqui, é intencional, no intuito de focar as atenções para algo que eu não sei o que é):

Deparei-me, já de cara, com um belíssimo soneto do grande Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, ou simplesmente, como é largamente conhecido este grande poeta, fundador da Academia Brasileira de Letras, OLAVO BILAC. Soneto de amor daqueles que qualquer poeta gostaria de, num momento de raríssima inspiração, ter escrito, ora servindo de objeto de análise para a resolução de questões da referida prova. Trata-se do soneto XIII de Via-Láctea – obra composta por trinta e cinco sonetos de grandeza semelhante. Observe que, além de toda a carga emocional – que denota uma sensibilidade monstruosa do poeta –, Bilac é um mestre da métrica perfeita. Todos os versos do poema são decassílabos (ou heróicos, como queiram) e as rimas, ricas, riquíssimas, eu diria, rimando palavras de classes gramaticais distintas. Atentem também, e isto é assustadoramente impressionante, para o fato de que, magistralmente, Bilac consegue inserir delicadamente em um soneto perfeito um diálogo intrigante e acirrado que culmina com uma Chave de Ouro (típica dos sonetos) que eu reputo das mais belas que já vi: "Pois só quem ama pode ter ouvido/Capaz de ouvir e de entender estrelas".

Então, ouçamos estrelas! Ei-lo:

XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?

Eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".


Saí-me vencedor do duelo, mas rendi-me à genialidade de Bilac.

sexta-feira, 10 de junho de 2005

TRAGICOMÉDIA

Cá na solidão de meus devaneios absurdos, eis que me surpreendo com tais pensamentos cutucando minha mente:

Já imaginaram o grande Machado de Assis, com o Manual de Estilo do Estado de São Paulo em mãos, escrevendo avidamente o seu Dom Casmurro e, por vezes, "corrigindo" frases e períodos inteiros para adaptá-los à deplorável cartilha do Estadão?

E o inigualável Guimarães Rosa, com seus neologismos fantásticos e suas experimentações lingüísticas espetaculares, sendo reprimido a todo o momento pelo famigerado corretor ortográfico do Word?

E Franz Kafka, num momento lastimável de lucidez e racionalismo, desistindo abruptamente de escrever A Metamorfose por considerá-la inverossímil?

Seria cômico se não fosse trágico!