quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O MAGO (um dos meus assuntos prediletos)

Paulo Coelho, o Mago, na abertura da Feira do Livro de Frankfurt.

Além de semear seus livros a mancheia pelas livrarias dos cinco continentes, o imortal Paulo Coelho - o escritor vivo (e bota vivo nisso) mais traduzido do mundo -, a despeito dos ares de fidalguia que lhe confere o seu desconfortável fardão, vomita profusamente pérolas de inestimáveis valor e brilho. A mais recente conta, proferida em plena 60ª Feira Internacional do Livro de Frankfurt, surgiu sob a forma de pedante autodefinição:

"Sou o intelectual mais importante do Brasil. Ponto. Não precisa explicar."

Depois de lançar sua vaidade a patamares intergalácticos, dizer o que a respeito do patético autor? A bem da verdade, é sabido que arrogâncias de tais jaezes são muito próprias dos medíocres - vestem-lhes bem -, pois, mesmo que a intitulação fosse de todo justificável, seria, no mínimo, indelicado tal pavoneamento. Conformemo-nos, portanto, com a excessiva afetação dos medíocres. É-lhes questão vital de auto-afirmação.

Frente a tamanho despautério, permito-me a seguinte conclusão: para acreditar no que afirmou em relação a si mesmo (eu, particularmente, não creio que acredite), o Mago, seguramente, ou não lê o que escreve - e assim agindo, preserva inteligentemente a sua saúde mental -, ou lê somente o que escreve - jamais tendo saboreado sequer um conto de Machado ou um verso de Drummond.

A Academia Brasileira de Letras já abrigou um Bruxo (do Cosme Velho) que muito a orgulhou, hoje, tenta digerir um Mago que a desonra e deprecia.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

DIREITO DE RESPOSTA


À esquerda, a imagem capturada do comentário a respeito do post anterior - sob o título de ELEIÇÕES -, em virtude do qual concedi-me direito de resposta.


A RESPOSTA:

Alto lá, açodado comentarista! Contém tua ira e modera tua soberba! Tua crítica, intolerante e incisiva - e impregnada de ironias enxovalhantes -, denuncia, da tua parte, uma interpretação deveras simplista e preconceituosa acerca do meu voto. Percebo que o contraditório não te é caro, mas dou a cara a tapa e não fujo do debate.

Primeiramente, anulei por ser-me negada a possibilidade de não votar, o que seria mais condizente com um regime político que se autoproclama democrático. A democracia plena deveria prever a possibilidade de se abrir mão de um direito, sempre que nos conviesse. A obrigatoriedade do voto, ao meu ver, é um inexplicável contra-senso, mas que, certamente, deve servir muito bem a propósitos escusos que ignoramos, mas de cuja existência desconfiamos. Conquistamos, a duras penas, um direito, e impuseram-nos mais um dever.

Em segundo lugar, não abri mão de escolha alguma. Minha escolha, sopesada e ponderada a exaustão, foi pela anulação do meu voto. Como bem disseste, é um direito que me assiste. E não se trata, aqui, de um infantil e inócuo voto de protesto, mas tão-somente de uma escolha de alguém que já está farto de tentar, em vão, detectar, de forma quase cirúrgica, o menos ruim entre os ruins e descobrir-se ludibriado, posto que o suposto menos ruim não raro revela-se tão ruim quanto os piores.

Três: enfadonho é votar "a meio pau", é escolher sem convicção, é votar por inércia. A convicção do meu não-voto, garanto-te e te desafio a que me convenças do contrário, foi infinitamente mais consistente do que os sufrágios vacilantes de muitos eleitores pseudoconscientes. Rompi com a inércia do voto útil para votar verdadeiramente consciente.

Em quarto lugar, recuso-me a votar sob a clássica e batida alegação de "falta de opção". Esta pueril justificativa não me convence, portanto, abstive-me. Não compactuei com o verdadeiro despropósito eleitoral que é votar por inércia. Deixei que assim o fizessem os demais eleitores, que ainda acreditam, ingenuamente, nesta politicalha endêmica que se alastra silenciosamente como um câncer pelas entranhas dos nossos poderes.

Por fim, não sei se sou demasiadamente cético ou apenas realista, nem se és, prezado missivista virtual, ingênuo ou otimista em excesso, mas a classe política, aos olhos deste que cá rabisca vez por outra, há muito deixou de merecer consideração ou respeito - com raríssimas exceções, admito.

A tempo: caríssimo, meu voto é tão valioso quanto o teu, portanto, não o diminuas com tuas cáusticas ironias.

domingo, 5 de outubro de 2008