sexta-feira, 17 de junho de 2011

SÓ ME RESTARAM MEUS SONHOS

Meus sonhos vão além de mim
Muito além do meu alcance
Logo, não convém alimentá-los
Mais que o tirano a seus vassalos
Eis que são inalcançáveis
Eis que são inacessíveis
São, sim, irrealizáveis!
Mas, de fato, são incríveis
Belos, memoráveis
Cultivo-os um a um, qual flores
Rego-os todo dia
Parcimoniosamente
Para que não cresçam em demasia
Água na mais justa quantia
Para que não morram, somente
Mas, também, não sintam dores
Converso com um e outro
Dia sim, noutro também
Para que se saibam sonhos meus
E jamais de outro alguém
Para que se entendam sonhos
Nada além
E que não nutram rancores
Por quem
Quer-lhes somente a si, como a um bem

Eloqüência e pouca água
É a dieta que os imponho
Sonho meu não vinga
Sonho meu não brinca
De transcender, de ser real
Não reclama, não chia
Não me afronta
E não deixa de ser sonho
Por destino ou teimosia
Não desperta, não desponta
Não me deixa em desamparo
Enfrentando a realidade
A sós
Sem sonhos
Sem vida
Na saudade...

Sonhos meus são sempre sonhos e sempre meus.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

PT ≠ ESQUERDA

Aqueles que me conhecem minimamente sabem: incompatibilizei-me totalmente com o Partido dos Trabalhadores, com cuja ideologia, sustentada heroicamente noutros tempos pelos seus quadros, identificava-me plenamente. Hoje, sigo acreditando naquela ideologia, contudo, não mais na sigla. Sigo esquerdista e utopicamente comunista. Já o PT, rejeitou solenemente toda a sua história e converteu-se (revelou-se?) numa agremiação centro-direitista, com todas as honras a que o ignóbil ideário pode remeter. Hoje, dada a guinada brusca à direita protagonizada pelo referido partido, sou o mais ferrenho crítico de Luis Inácio e seus asseclas, embora o senso de justiça que ainda me resta faça-me reconhecer, de lupa na mão, os raros pontos positivos de sua gestão bi-mandatária - pontos que não identifiquei no ainda incipiente governo de sua legatária.

Agora, o triste!, o lamentável!, o quase insuportável! desse intróito todo são os indesejáveis "aliados" que ando involuntariamente angariando! Seres cuja ignorância política e a obtusidade intelectual os fazem crer que a minha aversão ao PT, tanto quanto as suas, é motivada pelas mesmas razões. Analfabetos políticos que se regozijam ao suporem que encontraram, na minha pessoa, mais um ser iluminado que não admite um presidente oriundo das classes sociais mais humildes, semi-analfabeto e sem graduação superior. Liberais clássicos e neo-liberalóides que confundem uma crítica fundamentada e lógica com pareceres estéreis e impregnados de preconceito e desconhecimento, e destilam estes, amparando-se inapropriadamente naquela. Gente que, ainda hoje, considera - pasmem! - o Partido dos Trabalhadores o grande representante da ideologia de esquerda no Brasil, e tão-somente em nome dessa crença equivocada ainda o criticam. Criaturas imbecis que nunca se deram conta de que, tempos atrás, quando se autopropagavam orgulhosamente antipetistas, padeciam, em verdade, do direitismo reacionário e do conservadorismo congênito, males que hoje afligem o próprio Partido dos Trabalhadores.

Então, em vista de um fato qualquer no noticiário nacional, eu baixo o cacete no PT - hoje, um partido de linha centro-direitista. Saltam, sei lá de onde, inúmeros antipetistas históricos - eternos direitistas - endossando minhas palavras, fazendo-as suas e tirando-me pra compadre. Instantaneamente, crêem-se meus aliados ideológicos e incitam-me para que prossiga nas críticas, com as quais deleitam-se. Nauseabundo, penso em vomitar-lhes a cara com os impropérios esquerdistas do mais grosso calibre de que disponho, pondo-lhes no merecido lugar. Mas, recuo, sopeso, e concluo: perda de tempo...

Hoje, o PT é sangue do sangue deles, mas a ignorância faz-lhes cortar a própria carne e exibi-la com orgulho.

POETA ARROGANTE

Curioso, isso de ser poeta
Curioso e intrigante...
Dia desses, vi poesia numa garrafa térmica!
Outro dia, pessoas de maus-semblantes inspiraram-me bons-versos
Já despertei, sobressaltado, no meio da noite, com estrofes inteiras chacoalhando-me na cama
Ignorei os eventos, um a um, com indiferença e soberba
A poesia se oferecia; eu a desprezava
Afinal, sou poeta - pensava
Sou sujeito, e a poesia, objeto, que não existe, senão por mim

Hoje, descobri que existe, sim...
E, pelo visto, não quer mais saber de mim
Eis que a reclamo, desesperadamente
E ela me ignora, solenemente.