À vó Carmem, minha outra mãe [1917-2012]
Sinto que viver é irmos morrendo, aos pedaços, nas mortes de quem amamos. A cada perda, embrutecemos e vamos admitindo a nossa insofismável condição de mortais, que, na nossa idade inocente, era-nos inaceitável e incompreensível. Nessa trilha, vamos assimilando mortes doídas que nos subtraem valiosos pedaços de vida, até que, um dia, resta-nos um único pedaço. E este último pedaço luta só e incansavelmente, mas já não dá mais conta de uma vida inteira. Aí, então, sucumbimos - mas não sem também levar um pedacinho de vida de alguém que nos ama.
Ontem, levaram-me mais um belo pedaço de vida de cuja ausência já me ressinto. Um pedaço que, de tão imenso e significativo, deixou, naquele vão que sempre fora tão bem preenchido, um vazio tão profundo que consternou até mesmo os pedaços restantes de mim.
Mas sigo, mais bruto e menos vivo - e com a alma em pedaços.
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