quarta-feira, 14 de maio de 2003

Certa tarde, há muito tempo, realizei uma experiência inusitada, principalmente para uma criança de tão pouca experiência, ainda.



Nas minhas expedições pelo quintal de casa, que na época parecia ter magníficas dimensões, descobri uma singular obra arquitetônica levantada à revelia de todos lá de casa: um cupinzeiro. Fiquei fascinado e a minha curiosidade infantil de então obviamente não me permitiu abandonar a descoberta sem antes procurar afoitamente por um pauzinho qualquer e dar uma escarafunchada no tal cupinzeiro. Que mistérios abrigava aquela intrigante construção? Comecei a furá-la com o pauzinho, sem dó. Aquele castelo imponente, erguido às escondidas, começava a ruir sob as estocadas do meu impiedoso aríete. Meu raciocínio era simples e ingênuo: se eu não destruo a sua casa, vocês comem a minha, pensava eu na minha inocência (criança pensa simples, mas pensa certo!). Foi então que me veio à mente uma sádica idéia. A idéia de fazer uma experiência fantástica com a natureza, que todos afirmavam ser sábia.



Sem hesitar, saí à cata de um formigueiro. Tinha de haver um por perto! Fui arrebatado por uma empolgação sem limites e experimentava uma sensação estranha de onipotência, de ser Deus e brincar com a vida e a morte alheia. Encontrei, finalmente! Com uma pazinha plástica, daquelas de praia, juntei cuidadosamente um bom punhado de formigueiro e, adivinhem!, derramei as formigas, de maneira mais homogênea possível, dentro do ninho de cupim. Que prazer inexplicável que eu sentia assistindo, abobalhado, àquela cena dantesca de enfrentamento entre os cupins e as formigas. Estas massacraram aqueles e o meu time venceu. Foi extraordinário! Nesta grande batalha de insetos do meu quintal os cupins não tiveram a mínima chance, não esboçaram reação alguma e foram trucidados pela formigas que, além de trabalhadoras, também revelaram-se grandes guerreiras, concluí.



Esse foi um momento ímpar da minha infância e que marcou profundamente na minha memória. Hoje eu entendo o quanto de lúdico havia naquela brincadeira de descobrir, de experimentar, de se realizar com tão pouco. E como tais momentos na vida de uma criança são importantes para ela crescer e virar um adulto feliz.

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