segunda-feira, 12 de maio de 2003

Ontem à noite, no 10 (ou na Band, como queiram), assisti a uma entrevista fantástica da senadora Heloísa Helena, do PT de Alagoas. Não a conhecia ainda, a não ser de ouvir falar em noticiários e manchetes de jornal, sempre envolvida na polêmica divergência entre a ala governista, que apóia o presidente Lula e suas reformas, e a ala "radical", que é contra as reformas nos moldes em que foram propostas pelo executivo. Suas respostas às indagações dos entrevistadores foram contagiantes, embasadas em argumentos sólidos, e demonstraram um grande conhecimento de causa - detalhe que me saltava aos olhos. Longe daquele tipo de crítica apenas por criticar, sua crítica construtiva nos faz ver o grande equívoco das intenções de Lula e seu ministério, e aponta o caminho certo a ser trilhado. Virei fã da professora.



Por causa desta coragem e clarividência, e também por lutar por uma ideologia que o Partido dos Trabalhadores historicamente defendeu, a senadora, juntamente com os deputados federais João Babá e Luciana Genro, corre o risco de ser expulsa do partido. Que absurdo! Se existe alguém hoje que representa o PT com grande propriedade, honrando a história e a essência do partido, são os acima mencionados. A atitude estranha a todo este enredo, não condizente com os princípios do maior partido de esquerda do Brasil, é a do Exmo. Sr. Presidente da República e seus comparsas, que estão dando continuidade ao império "feagaceano" e, pior, estão indo muito além do que conseguiu ir FHC e sua trupe. Suas atitudes são incrivelmente contraditórias e incoerentes, haja vista a sua história de lutas pela classe trabalhadora e pelo fim dos privilégios que o capital detém às custas do social. Quem poderia esperar tal engodo?



Chamou-me especial atenção a argumentação da senadora alagoana em defesa do funcionalismo público, uma das principais vítimas dos projetos de Lula e cia. Com muita clareza e didática típica de uma boa professora, a senadora explicou que defendia os funcionários públicos porque são eles, em resumo, que proporcionam ao "trabalhador pobre" (termo utilizado com freqüência para se referir ao assalariado da iniciativa privada) o acesso aos serviços gratuitos e indispensáveis à sociedade. Senão, vejamos:



Segurança: para o pobre, segurança é a Brigada Militar. Bem ou mal, essa categoria de funcionários públicos é a principal responsável pelo bem-estar da sociedade. Priorizando a polícia militar, que é gratuita, reduziremos a necessidade de segurança privada, que é paga e é para poucos.



Saúde: para o pobre, saúde é o SUS. Representa a única forma de acesso do "trabalhador pobre" aos serviços de saúde, que são altamente prioritários em uma sociedade que se queira civilizada. O rico, é claro, não vê com bons-olhos os gastos governamentais com saúde pública, pois não necessita dela. Se precisar de atendimento médico, lança mão de seu plano de saúde privada.



Educação: para o pobre, educação é a rede pública de ensino. Professores não valorizados não geram cidadãos no sentido pleno do termo. A educação pública, representada pelos professores, deveria ser a grande prioridade de qualquer nação que queira se desenvolver e oferecer condições dignas de vida ao seu povo. Entregar essa responsabilidade à iniciativa privada é, no mínimo, um ato de irresponsabilidade, para não dizer, de irracionalidade. Misturar a formação de consciências com lucro é uma insanidade brutal.



Em síntese: o que é gratuito, é público. A iniciativa privada entra em cena justamente onde o serviço público é deficiente, mas com uma diferença: ela cobra, e bem. Se o serviço público é aceitável, dispensa-se a onerosa participação privada. E o funcionário público é a ferramenta que disponibiliza o acesso a todos esses serviços indispensáveis, entre muitos outros que não foram aqui citados. Por isso a sua valorização é tão importante.



A senadora Heloísa Helena está defendendo o povo brasileiro que trabalha, que luta e que sofre. Deste mesmo povo surgiu Lula, com sua esperança infinita e alentadora. Povo que acreditou e lutou junto com o ex-metalúrgico. E que tinha tanta esperança que nem mesmo o medo que porventura surgisse conseguiria abalar. A esperança venceu o medo, mas a realidade que está se mostrando parece que vai vencer a esperança. Será?



Heloísa Helena, João Babá, Luciana Genro, entre outros tantos que não fazem vista-grossa às evidências e têm o mínimo de consideração pela luta da classe trabalhadora, PARABÉNS! Esta luta, com certeza, não será em vão, pois esta postura elevada diante da realidade que se mostra está nos dando uma aula de coerência e, acima de tudo, de respeito pelo povo.

Nenhum comentário: