segunda-feira, 21 de julho de 2003

A imaginação é muito mais real do que supomos. Esta faculdade mental da qual todos somos possuidores - uns mais, outros menos - é capaz de nos fazer sentir sensações da mais concreta realidade, sensações que tão-somente através da via imaginativa poderíamos experimentar. Como poderíamos usufruir e apreciar uma boa leitura sem que a imaginação fizesse a vital ligação entre as palavras e as emoções que estas nos suscitam? Ela é a ponte que liga um lado do abismo ao outro, e aí então se completa o maravilhoso processo que resulta no inigualável prazer de ler. Como adorar Chico Buarque e emocionar-se com a triste sina do pedreiro que morre na contra-mão atrapalhando o sábado, compreender suas metáforas geniais, sem imaginarmos detalhadamente cada andaime da construção e a vida sub-humana que o referido operário suporta, sem que a veia imaginativa ative tais sensações em nosso coração? Imaginar é viver e, assim como sonhar, é a prova cabal de que estamos vivos e, como diria Fernando Pessoa, navegando. De que forma concretizaríamos algo sem o imaginarmos primeiro, sem o idealizarmos no plano metafísico das idéias (perdoem-me a redundância, mas a considerei essencial)? E como sentir tal conquista, como dar o devido valor a tanto, sem que o abstrato universo da imaginação esteja presente, imperativo e imponente, aproximando de maneira fraterna o realizador da realização? Pois do contrário, manteríamos uma relação fria e insensível com o mundo que nos cerca, tal dois objetos sem sujeito. Imaginar é o estímulo do cérebro pelo próprio cérebro para daí surgirem as sensações, sejam de prazer, sejam de sofrimento. É imprescindível sonhar, imaginar, criar utopias e quimeras para seguirmos em frente. O que para alguns pobres de espírito é visto como sandice, eu considero o mais belo lirismo.

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