domingo, 5 de outubro de 2003





Os defensores do golpe de 64 chamam-no eufemisticamente de "revolução democrática". Cara-de-pau tamanha eu nuca vi! O que houve, em verdade - e todos nós o sabemos -, foi um ardiloso golpe desferido contra a mais autêntica tentativa de instauração de um governo realmente democrático e socialista no Brasil, conduzida com maestria e coragem pelo então presidente João Goulart.



Como pode uma revolução dita "democrática" advir do autoritarismo tirânico de uma minoria detentora do poder econômico e bélico de um país? Isso em contraposição à liberdade do povo, à sua vontade e a seus anseios.



Não há revolução democrática - na verdadeira acepção do termo - que não contenha em seu cerne o desejo da ampla maioria. A democracia, etimologicamente, já pressupõe tal condição. Do contrário, é golpe. Sujo, vil, baixo, demagógico.



Estou me deliciando com a leitura de "10 Dias que Abalaram o Mundo", de John Reed, "o mais célebre relato da revolução russa". Verdadeira aula de revolução democrática constituída a partir das bases proletárias de um povo que chegaria legitimamente ao poder de sua própria nação. Os rumos - equivocados, segundo várias opiniões - que tomou o governo soviético, posteriormente à grande revolução de 1917, de forma alguma diminuem a grandeza e a autenticidade daquela magnífica insurreição popular que se opôs, num primeiro momento, ao regime absolutista do czar e, em seguida, a uma tentativa de tomada do poder pelos burgueses abastados, grandes latifundiários e oficiais das forças armadas russas - que compunham o governo provisório formado a partir da queda de Nicolau II.



Um paralelo comparativo entre os acontecimentos de 1964, no Brasil, e 1917, na Rússia, pareceu-me perfeitamente aceitável e, mais ainda, extremamente pertinente, já que ambos falam em revolução democrática: no caso de 64, em tom sofista e contraditório, já em 1917, a verdadeira revolução demo(povo)crática(poder).



Quem sabe um dia acordaremos e, igualmente, abalaremos o mundo?!

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