terça-feira, 20 de janeiro de 2004

O dinheiro lhe dá quase tudo, exceto classe. E como tem gente com aquele em abundância e esta em escassez!



Eu, recentemente, fui vítima de uma destas pessoas pobres de espírito, mas com uma estampa de magnificência absoluta que enoja a qualquer um. A dita cuja passa férias em Paris, anda de carro importado, tem sobrenome pomposo e freqüenta as altas rodas da "soçaite" taquarense. Mas todos esses esnobes indícios de pessoa de alto nível não conferem, por si só, classe a quem quer que seja, e mesmo assim ela acredita piamente que tais futilidades lhe garantem, em fartas porções, a supremacia de caráter sobre os demais - típico equívoco dos desprovidos de classe.



Fiquei perplexo diante de um questionamento que me foi feito por ela, surgido do nada, do completo silêncio, fora de contexto e completamente fora de propósito. Foi uma legítima "bola nas costas", e, atônito diante de tão extemporâneo episódio, falseei e fiquei com cara de babaca olhando para o meu algoz de última hora enquanto sentia o sangue quente ruborizar minha face. Respondi, embasbacado e constrangido, e calei-me pensando: "Bem, passou!". Normalmente não se espera o golpe quando ele é baixo, e, portanto, não se esboça reação alguma.



Não satisfeita com minha monossilábica resposta, alguns minutos de silêncio e vem ela novamente com sua irritante insistência. Refaz a pergunta, agora com maior riqueza de detalhes e sutis requintes de crueldade. Novamente encolho-me e absorvo o golpe sem reação alguma. Respondo-lhe, completamente constrangido e, já a essas alturas, sentindo-me de uma certa forma humilhado diante de tamanha indiscrição e inconveniência. Sinto-me mal e penso: "Que talento para escrachar! E que falta de classe!".



Classe não se compra, tem-se. É saber calar na ora certa. É saber dizer o que tem de ser dito, quando tiver de ser dito e a quem tiver de ser dito. É respeitar os sentimentos alheios mais do que aos seus próprios sentimentos. É ser cortês, educado, discreto, humilde e gentil, sem ser hipócrita. É colocar-se no lugar do outro e agir partindo deste ponto de vista. É nunca, jamais, em hipótese alguma, ser cínico ou irônico com o intuito de ferir ou humilhar. É manter uma postura e uma linha de conduta e só abrir mão das mesmas se estiver convencido de que havia se equivocado.



Estou vacinado? Acredito que ainda não. Creio que para tal moléstia não há vacina. Mas estou mais precavido, particularmente em relação a essa pessoa, que conquistou apenas o meu desprezo e obrigou-me a um inevitável distanciamento, o que é perfeitamente natural diante do ocorrido. Não sei se ela ganha ou perde com isso, também não me interessa! Sei apenas que para mim o afastamento é benéfico e, de algum modo, tranqüilizador.



Pensei muito sobre o ocorrido e acho que construí uma boa alternativa para situações semelhantes, sempre procurando manter a classe. Dou-lhes a dica: Abra um sorriso no rosto e, com uma entonação de voz calma e serena, responda assim: "Por que você quer saber?" Se a pessoa insistir, diga: "Caríssimo(a), gostaria muito de não ser grosseiro com você, mas diante de tão inconveniente insistência, sinto-me forçado a dizer-lhe que não é da sua conta. Ok?" E mude de assunto tão logo proferir tal sentença - tenha algum já engatilhado para a ocasião - para não dar margem a argumentações desclassificadas de um algoz sem classe.

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