quinta-feira, 25 de março de 2004

O GRANDE CIRCO DA VIDA

Sou um palhaço
Um palhaço anômalo, às avessas
De viés triste e melancólico
De picadeiros vãos, vazios de sim, repletos de não
Sem nariz vermelho, sem pintura no rosto, sem pantomimas nem piadas...
Minha existência já é uma grande piada (e de muito mau gosto, eu sei)
Sou um palhaço cuja lastimosa desgraça faz brotar em lábios alheios um sorriso irônico, debochado e arrogante
Palhaço de feições patéticas e ridículas, digno apenas de escárnio e zombaria
Sou um palhaço que ri de si mesmo quando se encharca de cachaça - sua mais encantadora liberdade
E que chora por dentro quando no calabouço da sobriedade - sua mais sórdida prisão
Que chora por fora quando só
E chega a chorar sangue, até, dando dó...
Um palhaço entre tantos outros que encenam as suas tristes realidades para entreter um seleto público de tiranos
Fúteis, cruéis e mundanos
Um palhaço que sofre por não poder fazer rir o seu igual que sabe, de própria vivência, que a vida de palhaço é dor e desgosto
Sou um palhaço escravizado sob a lona do Grande Circo da Vida
Minha alforria: somente a morte
Um dia

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