quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

Deixou-nos segunda-feira! Uma verdadeira dama! Afável, carinhosa, de uma candura indescritível - embora eu, aqui, tentarei quase em vão descrevê-la.

Deixou-nos quase com a mesma delicadeza com que, numa manhã do remoto ano de 1994, adotou-nos como sua família. Sim, porque foi ela quem nos escolheu, e não o contrário. E que honra ser o eleito de tão altiva dama sem, nem de longe, vislumbrar algum mérito para tão dignificante escolha!

Seu olhar era puro e sincero e emanava uma luz intensa de afeto e consideração. Mal sabia ela, na sua generosidade sem fim, que fazia mais bem a nós do que nós a ela. Digamos que sua humanidade era de tal magnitude que ofuscava a pseudo-humanidade de muita gente.

E, como se não bastasse, cuidava da casa e de todos nós - sua família por opção! Era uma heroína! Apenas duas coisas a punham em estado de pânico: foguetes e trovões. Os estrondos mais altos a deixavam acuada e temerosa, talvez por não fazer idéia de onde vinham tais manifestações sonoras. Também pudera, um ser quase perfeito, haveria de revelar alguma fraqueza nalgum momento. Mas também nas suas pequeninas fraquezas residia o seu dom de conquistar-nos a todos, pois só assim, com a oportunidade de tranqüilizá-la e afagá-la nas noites de temporais e comemorações, sentíamo-nos merecedores de seu zelo e, dentro de nossos limites humanos, retribuíamos em parte o apreço que este pequeno ser por nós nutria. E isso, sem que ela o soubesse, fazia-nos um bem imenso!

O câncer a levou, privando-nos de seu convívio tão benéfico e acalentador. Em seus últimos momentos, seu estado era crítico. Estava demasiadamente debilitada, sem poder caminhar, já com apenas uma vista - a vista direita fora retirada em uma cirurgia devido a uma forte infecção -, abatida e triste. Mal supunha que a sua tristeza fazia-nos muito mais tristes ainda. Seu olhar suplicava por um alívio. O sacrifício foi inevitável.

Mariola! Se realmente há um céu de cachorros, sem dúvida alguma tu estás, neste momento, ocupando um lugar de destaque entre os teus comuns. Se não há, é ponto pacífico que Deus, na sua sabedoria e generosidade infinitas, enviou-te ao céu dos homens com a mesma missão que tu tão admiravelmente cá embaixo cumpriste: torná-los melhores e mais felizes - ainda que no céu.

Um comentário:

Anonymous disse...

Meu amigo, lindo este texto.