terça-feira, 22 de março de 2005

ADROALDO

Adroaldo era seu nome. Nome de uma sonoridade incrível e que, ao ser pronunciado, metaforicamente, enche a boca de qualquer falante. Adroaldo da Silva, simplesmente. Nome sui generis e sobre-nome popular. Adroaldo detestava seu nome.

Adroaldo passara toda a sua existência conjecturando, supondo, presumindo e refletindo sobre os prováveis motivos que teriam levado seus pais à escolha de tão singular graça para o rebento único da família. "Serei eu resultado de uma gravidez não desejada que, por muito pouco, não resultou em aborto? E sendo assim, como forma de vingança, colocaram-me esse nome horrendo?" Passava de tudo por sua cabeça delirante. Essa questão, para Adroaldo, tornou-se de vital importância. Mas por mais que tentasse descobrir, nunca chegara sequer próximo de alguma explicação que o contentasse. Sua vida era uma agonizante busca pela verdade - pela sua verdade. Suas noites eram de sono intranqüilo e pesadelos inquietantes que, invariavelmente, tinham por enredo aquele nome: Adroaldo! Já tornara-se um caso clássico de obsessão irracional.

E assim passaram-se os anos até que veio ao mundo o primogênito de Adroaldo. Um garotão forte e saudável, muito parecido fisicamente com a mãe - Adroaldo agradeceu a Deus por isso -, mas com um olhar curioso, arguto e perspicaz - característica inegavelmente herdada do pai, concordaram todos.

No dia do batismo, com a criança em seu colo, Adroaldo suspirou profundamente e, incrivelmente aliviado, pensou consigo mesmo: "Enfim, paz. Agora é contigo, Adroaldinho!"

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