domingo, 6 de março de 2005

O GRANDE CIRCO DA VIDA

Sou um palhaço

Um palhaço anômalo, às avessas

De viés triste e melancólico

De picadeiros vãos, vazios de sim, repletos de não

Sem nariz vermelho, sem pintura no rosto, sem pantomimas nem piadas...

Minha existência já é uma grande piada (e de muito mau gosto, eu sei)

Sou um palhaço cuja lastimosa desgraça faz brotar em lábios alheios um sorriso irônico, debochado e arrogante

Palhaço de feições patéticas e ridículas, digno apenas de escárnio e zombaria

Sou um palhaço que ri de si mesmo quando se encharca de cachaça - sua mais encantadora liberdade

E que chora por dentro quando no calabouço da sobriedade - sua mais sórdida prisão

Que chora por fora quando só

E chega a chorar sangue, até, dando dó...

Um palhaço entre tantos outros que encenam as suas tristes realidades para entreter um seleto público de tiranos

Fúteis, cruéis e mundanos

Um palhaço que sofre por não poder fazer rir o seu igual que sabe, de própria vivência, que a vida de palhaço é dor e desgosto

Sou um palhaço escravizado sob a lona do Grande Circo da Vida

Minha alforria: somente a morte

Um dia.

Nenhum comentário: