segunda-feira, 11 de abril de 2005

DESISTA! (Franz Kafka)

Era de manhã bem cedo, as ruas limpas e vazias, eu ia para a estação ferroviária. Quando confrontei um relógio de torre com o meu relógio, vi que já era muito mais tarde do que havia acreditado, precisava me apressar bastante; o susto dessa descoberta fez-me ficar inseguro no caminho, eu ainda não conhecia bem aquela cidade, felizmente havia um guarda por perto, corri até ele e perguntei-lhe sem fôlego pelo caminho. Ele sorriu e disse:

- De mim você quer saber o caminho?

- Sim - eu disse - , uma vez que eu mesmo não posso encontrá-lo.

- Desista, desista - disse ele e virou-se com um grande ímpeto, como as pessoas que querem estar a sós com seu sorriso.

O sentimento profundo de angústia que este pequeno conto de Kafka é capaz de provocar é assustador. Remete-nos ao inquieto mundo dos pesadelos absurdos, para o qual a única escapatória é o despertar. A literatura que nos suscita tais sentimentos é, inegavelmente, grandiosa.

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