segunda-feira, 15 de agosto de 2005

DEVAGAR COM O ANDOR...

Em nome da governabilidade, o PT deixou-se levar. Os fins justificam os meios? Em muitas situações, eu diria que sim, justificam. Em alguns casos, inclusive, os fins não só justificam como determinam e legitimam os meios, por mais inconcebíveis que estes possam parecer. Mas, felizmente, o cenário político não é o mais indicado para a comprovação de tal máxima.

O Partido dos Trabalhadores, em busca da tão almejada governabilidade, sem a qual todo projeto de governo se torna inexeqüível, deixou-se afundar no fétido lodo do meio equivocado. Tudo certo enquanto a fedentina não desperta os olfatos da nação. Mas, através do nosso excelentíssimo deputado Roberto Jefferson, o insuportável odor veio à tona, pondo alerta desde os mais respeitáveis cidadãos e homens públicos até os execráveis urubus da grande mídia, sempre ávidos por podridão. É nesta última em que ora me detenho.

Quero reiterar minha opinião de que tudo até agora, a merda toda, sem exceção, não passa de suposições baseadas em evidências questionáveis e incompletas. A mídia maledicente está prestando um desserviço à nação ao transformar denúncias vazias em provas concretas. E vem batendo com força e cólera descabidas, num anseio irracional de derrubar na marra o primeiro – e talvez o único, diante de tudo que estamos presenciando – governante desta nação cuja origem está intrinsecamente ligada ao povo pobre e trabalhador. Indiscriminadamente, os meios de comunicação, salvo raríssimas exceções, vêm julgando e condenando, já de antemão, o presidente Lula, como se lhes coubesse tal papel. Sua competência restringe-se ao ato de bem informar a população, com isenção e imparcialidade – função que, invariavelmente, negam-se a cumprir –, jamais tomar para si as incumbências do poder judiciário, como fizeram no caso do impeachment de Fernando Collor de Melo, em 1992* (mas esta já é outra história). A CPI levanta a lebre e o judiciário é quem abate a caça. A mídia apenas retransmite os fatos.

Roberto Jefferson é visto por muitos incautos e incultos como o paladino da justiça e da moralidade do momento. Com aquele olhar de psicopata – que se fez mais assustador com o arroxeamento do olho esquerdo, causado por uma suposta queda de uma suposta estante quando buscava alcançar um suposto CD do Lupicínio – e com sua lábia afiadíssima, abateu corações pelo Brasil afora, e não me surpreenderia descobrir que já possui até fã-clube. Ameaçado de desaparecer em meio à merda que ele próprio ajudara a expelir, decidiu espalhá-la aos quatro ventos. Sem autoridade nenhuma para tanto, tornou-se o mais novo herói brasileiro. Pobre país cujos heróis advêm da merda.

Repito, há crime, haja condenação. Mas deixemos bem claro e transparente o papel que cada um cumpre dentro de um regime democrático. Se as denúncias revelarem-se verdadeiras, o ato desesperado de autopreservação do deputado Roberto Jefferson terá se mostrado de inestimável valor ao país e à democracia, mas, cuidado, isso jamais fará dele o herói que a grande mídia está querendo enfiar-nos goela abaixo. Ademais, neste episódio, o final feliz culmina com o herói na cadeia.

*A justiça inocentou o ex-presidente das acusações de corrupção por insuficiência de provas.

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