segunda-feira, 26 de setembro de 2005

O AMOR, POR MACÁRIO

Careço de compartilhar com meus minguados leitores esta quase perfeita definição do que é o amor, na sua total plenitude e imaculada pureza (perdoem-me as redundâncias, mas as julgo imprescindíveis para enfatizar o brilhantismo do excerto). Pinçado da obra dramática de Álvares de Azevedo, Macário, esta belíssima passagem traduz, na visão de Macário – personagem principal que empresta o nome à obra – o que seria o amor, sentimento que até então ele jamais experimentara. Ei-lo:

"...o sentimento casto e poro que faz cismar o pensativo, que faz chorar o amante na relva onde passou a beleza, que adivinha o perfume dela na brisa, que pergunta às aves, à manhã, à noite, às harmonias da música, que melodia é mais doce que sua voz, e ao seu coração, que formosura há mais divina que a dela..."

Álvares de Azevedo morreu às vésperas de completar vinte e um anos de idade, mas, a despeito de tão breve existência, fez-nos – amantes da literatura – privilegiados herdeiros de uma obra de inestimável valor literário. Num exercício imaginativo, visualizemos o bom e velho Álvares, lá com seus 50 ou 60 anos de idade, no auge da sua maturidade literária, escrevendo avidamente, dias e noites, até o ponto final de sua vida. Creio que teríamos presenciado a ascensão de mais um monstro da literatura universal, cá na terrinha.

Um comentário:

Cíntia Rosângela disse...

difícil aquele que consegue admirar, entender e se identificar com as palavras de alguém que tanto sofreu por amar e amou paea não sofrer. Este trecho de "O Macários" é sem dúvida, entorpecente, delirante, sentimento extraído das entranhas...