“Consertam-se corações partidos”, dizia a placa, em letras garrafais. De pronto, num decidido quarto de volta, adentrou à curiosa oficina.
- Boa tarde!, disse ele, um tanto quanto constrangido. Pensava consigo mesmo “entrei aqui num impulso desesperado, sem pensar na besteira que li naquela maldita placa!”.
- Boa tarde! Em que posso ajudá-lo?, perguntou o senhor calvo, aparentando avançada idade, detrás do balcão, embora soubesse exatamente o motivo pelo qual as pessoas o procuravam.
- Bom, é que... eu...
- Já sei, problemas com o coração, certo?
- É, mais ou menos... é que...
- Não tenha vergonha, meu filho. Conte-me exatamente como foi.
- Bom... é que o coitadinho, insuflado de amor e sentimentos puros e sublimes, quedou-se do alto de um relacionamento e, desde então, parece-me que não vem funcionando direito. Bate meio confuso, arritmicamente, plangente e dolorido. Será que o senhor poderia dar uma olhada, fazer-me um orçamento, talvez...
- Claro! Sem problemas. Afinal de contas, este é o meu ofício e dele eu tiro o meu sustento a mais de cinqüenta anos! He, he... Não se preocupe, sou muito bom no que faço - sem falsa modéstia.
- E como poderíamos fazer?
- Deixe-me aqui o seu coração defeituoso que eu o examinarei minuciosamente e, assim que obtiver um diagnóstico seguro, ligo-lhe informando. Mas, alerto-lhe desde já: talvez tenhamos de substituir alguma peça mais afetada ou desgastada, embora, haja vista a sua jovialidade e saúde manifestas, não seja comum a troca de componentes.
- Certo! disse-lhe com um entusiasmo evidente nos olhos. Deixo-lhe o meu telefone e, tão logo que o senhor puder, peço-lhe, ligue-me! Obrigado!
- De nada, meu filho. Começarei já e desmontá-lo. Até mais!
- Até!
Tão logo chegara em casa e o telefone tocou, estridente. Se estivesse de posse de seu coração neste momento, por certo este dispararia em seu peito, tal era a ansiedade por boas notícias.
- Alô?
- Olá, meu filho. Aqui é da oficina de corações.
- Olá!! Alguma novidade? Estou surpreso com a rapidez! O que tem para me dizer?
- Meu filho, tenho ótimas notícias! Mal abri o seu claudicante coração e constatei o defeito: apenas um ventrículo queimado devido a alguma sobretensão de emoções - positivas ou negativas, não se é possível precisar! Substitui-o por outro de igual capacidade e realizei alguns testes. Perfeito!! Seu coração está novo, pronto para bater com todo o vigor novamente e encarar novos picos de emoção!
- Puxa vida!!! Estou até emocionado! Muitíssimo obrigado! E, a propósito, quanto me irá custar o serviço?
- Meu filho, a mão-de-obra e o tempo foram tão ínfimos que, para virar freguês, considere como uma gentileza de um amigo. Sei que, aventureiro e sensível como é o seu coração, precisará novamente de meus serviços, portanto, não se furte de colocá-lo à prova e tampouco deixe de viver, com receio de novas quedas, pois sempre estarei aqui para socorrer-lhe quando precisar. Se quiser, pode passar aqui agora mesmo e pegá-lo.
Um comentário:
Onde fica esta oficina? Preciso levar o meu com urgência!
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