sábado, 31 de outubro de 2009

DESVENDANDO CHICO



Acabei de realizar uma modesta transferência de riqueza, via instituição financeira oficial (leia-se "pagar o boleto"), e encomendei o livro Histórias de Canções, no Submarino. Deve-me estar chegando por estes dias, no máximo até terça-feira. Prevejo em tal obra o deslinde de muitos enigmas buarqueanos - que há muito vêm me corroendo a alma - que só mesmo quem conviveu e convive muito amiudadamente com o grande compositor poderia - e o fez - desvendar. Wagner Homem, o autor, além de atuar como editor responsável pelo home page oficial do artista, é grande amigo de Chico e presenciou muitas das inúmeras circunstâncias em que foram concebidas algumas das suas mais belas composições, quiçá das mais belas da nossa riquíssima e inigualável aquarela musical brasileira. Nesta invejável condição, o autor revela-nos os meandros da criação buarqueana, relatando-nos com detalhes muitos causos e historietas e, por essas vias, aclarando muitos pontos que ainda restam obscuros na vasta produção musical do autor, inclusive para os que, como este que vos fala, declaram-se grandes admiradores da incomparável obra de Francisco Buarque de Hollanda, o Chico. Portanto, decifrem-no.


Brinde: uma das minhas canções preferidas do Chico - Mar e Lua - que, para mim, durante muito tempo soou-me deveras enigmática, até que Gilberto de Carvalho a descortinou, fazendo-a, para mim, mais linda e completa - como sempre fora. Ouçam-na, acompanhem a letra e confiram a nota sobre Mar e Lua.






Mar e Lua
Chico Buarque


Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar


E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepios
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua
Correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Boiando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar


Nota sobre Mar e lua
Por Gilberto de Carvalho


Esta música, segundo o próprio Chico, ele a fez baseando-se numa crônica que tinha lido (pelo que a letra parece mostrar, essa crônica devia versar sobre o suicídio de duas moças do interior, que se amavam). Um detalhe importante aí é o próprio título (mar: masculino; e lua: feminino), que configura não só o contraste na relação amorosa das duas moças como também deixa transparecer a atração tão forte dessa relação, comparável à do mar em relação à lua (e vice-versa).


Espero logo comprovar a suspeita de que Wagner Homem tenha feito o mesmo com tantas outras canções do Chico.

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