terça-feira, 17 de janeiro de 2012

SOBRE ACHADOS E EVACUAÇÕES LITERÁRIAS

Vasculhando as abarrotadas prateleiras da velha Tabacaria Globo, em Tramandaí - a capital das praias gaúchas -, encontrei, quase anônimo entre amarfanhadas Sabrinas, Júlias e um sem-número de gibis usados, o livro acima, por apenas 19 pilas! Foi um belo achado. Trata-se de um magnífico guia literário, onde se pode saber da vida, da obra, dos estilos e das influências dos mais notáveis romancistas, poetas, dramaturgos, filósofos e ensaístas de todos os tempos. São 501 autores, apresentados em ordem cronológica, e suas respectivas microbiografias, que podem despertar no leitor o desejo de conhecer mais a fundo os grandes mestres da literatura universal e suas obras não menos grandiosas, promovendo um indispensável primeiro contato para se estabelecer tal relação.

O livro possui 640 páginas, todas em papel cuchê e coloridas, com fotos dos autores e muitas outras ilustrações. A compilação foi organizada por Julian Patrick, professor de inglês e de literatura comparada da Universidade de Toronto, e a tradução para o português da edição brasileira ficou a encargo de Livia Almeida e Pedro Jorgensen Junior.

Nota negativa: por ter sido produzido em Londres, a literatura brasileira foi pouco e mal abordada. Na edição original inglesa, apenas Machado de Assis, Jorge Amado e, pasmem, Paulo Coelho (entendem, agora, o porquê do "mal abordada" da frase anterior?) eram referidos. Nesta edição, publicada pela editora Sextante, foram incluídos mais 24 autores brasileiros, embora tratados de maneira muito superficial (eles bem que poderiam, para o bem da nossa literatura e preservação da nossa dignidade, ter suprimido o capítulo referente ao "mago", mas...).

Não estou querendo afirmar que a literatura brasileira ocupe um inequívoco lugar de destaque entre as grandes escolas literárias mundiais - tais como a russa, a inglesa e a francesa. Absolutamente. A meu ver, apenas Machado de Assis, Guimarães Rosa e, talvez, Carlos Drummond de Andrade, entre os nossos, assim o fariam com pleno merecimento. Apenas acho que a obra torna-se mais palatável para nós, brasileiros, se depararmos com semblantes familiares do nosso cânone literário, que, admitamos, possui valores respeitáveis e admiráveis - entre os quais, indubitavelmente, não se pode admitir a presença degradante de Paulo Coelho.

De resto, um grande material para consulta e degustações aleatórias. Ótimo para se ler no banheiro; eu, por exemplo, estou lendo um autor por evacuação (quando fazer merda torna-se um prazer intelectual).

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