sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O BANDIDO E O MOCINHO

Eis o bandido (o mocinho, todos já conhecemos bem).

É muito fácil – e de bom tom, até – gostar de Chico Buarque, o bendito. Difícil é gostar de Sérgio Sampaio, o maldito. E quais seriam as razões dessa dicotomia que ora me permito criar? Chico seria bom e Sampaio seria lixo? Absolutamente! Ambos são – e aqui o clichê deixa de ser clichê, posto que indispensável – igualmente geniais, cada um ao seu tempero.

Porém, gostar de Chico Buarque é quase obrigatório, é quase vocação inata de brasileiro que se quer anunciar erudito, culto. Todos têm a sua preferida do compositor carioca, que normalmente gira em torno de Construção, Apesar de Você, A Banda e Cotidiano – algumas das mais populares do cancioneiro buarqueano –, e, além dela, talvez saibam cantarolar o refrão de mais umas duas ou três canções de Chico e só. Mas dizem: “Chico é Chico”, sem ao menos saber que Chico inegavelmente é Chico, tanto quanto “Sampaio é Sampaio”. Gostar de Chico é a regra, ao passo que não gostar torna-se a exceção envergonhada que raros admitem.

Chico chega-nos aos ouvidos quase que incidentalmente, independentemente de buscas ou pesquisas mais apuradas, enquanto Sampaio se esconde, foge-nos desesperadamente, não se mostra, não o permitem mostrar-se. Chico é popular e erudito, Sampaio é erudito também – lírico, até –, contudo, anômalo, incomum e de um hermetismo que tende a repelir ouvidos preguiçosos. Ambos produziram uma obra musical extraordinária. Um, obteve o pleno reconhecimento de público e crítica, outro, fez poesia no gueto, foi um gigante anônimo; este foi Sérgio Sampaio; aquele, Chico Buarque.

Amo o maldito e o bendito. Chico, admiro-o de longa data, desde que me descobri adorador incondicional da boa música brasileira (neste quesito, sou um xenófobo confesso); Chico me conquistou. Sampaio é amor recente, porém arrebatador e definitivo. Embora tenha quase me escapado, de repente, já com quase quarenta, conquistei Sampaio.

Trajetórias e circunstâncias distintas, contudo, talentos indiscutíveis – gostos à parte. Desobriguemo-nos de gostar do que desgostamos; amando ou odiando, faça-o com sinceridade. É mais bonito e mais saudável.

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