Não há nada, uma nodoazinha sequer, que possa conspurcar o
talento e a grandiosidade da obra deste monstro da música brasileira. Há quem
diga que até mesmo o seu silêncio era poético.
A canção Autonomia, cuja letra transcrevo abaixo, foi
composta por Cartola quando da notícia de seu câncer, que, logo mais tarde, privar-nos-ia de seu convívio para sempre.
É de uma resignação comovente.
AUTONOMIA
É impossível nesta primavera, eu sei
Impossível, pois longe estarei
Mas pensando em nosso amor, amor sincero
Ai! se eu tivesse autonomia
Se eu pudesse gritaria
Não vou, não quero
Escravizaram assim um pobre coração
É necessária nova abolição
Pra trazer de volta a minha liberdade
Se eu pudesse gritaria, amor
Se eu pudesse brigaria, amor
Não vou, não quero.
Rabisquei, meio de impulso, uma singela homenagem a este
ícone do samba.
CARTOLA FICOU
Nasceste Angenor
Viraste Cartola
Amaste tua Zica
Cantaste a Mangueira
E o tempo passou
No dia e na hora
De ires-te embora
Foi-se o Angenor
Cartola ficou
Ficaste, Cartola
No samba, na dor
No pranto e no encanto
De quem se encantou.
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