domingo, 24 de janeiro de 2016

MORANGO E CHOCOLATE



Um professor homossexual, sensível e intenso em tudo o que faz, amante da literatura e das artes em geral, e que reivindica o pleno direito de expressão em uma Cuba, no final da década de 70, sob um jugo bastante arbitrário. Este é Diego.

Um jovem estudante universitário, engajado militante comunista, defensor incondicional do regime castrista e entusiasta das conquistas da revolução, e que sofreu uma recente desilusão amorosa. Este é David.

Morango e Chocolate. Diego e David.

O encontro inusitado dos dois protagonistas dá-se na afamada sorveteria Coppélia, inevitável paradouro dos havaneses nas tardes escaldantes do verão caribenho. Ao entrar na sorveteria, Diego avista David, cuja beleza desperta-lhe incontido interesse, e decide abordá-lo, sentando-se à mesa onde o jovem estudante saboreia, solitário e absorto, o seu sorvete de chocolate. E Diego o faz de maneira súbita e um tanto inconveniente, o que, a princípio, causa desconforto em David. Inferindo seu interesse por literatura, sob o pretexto de apresentar-lhe autores estrangeiros pouco apreciados pelo regime, Diego convence David a acompanhá-lo até sua casa. A partir desta visita, inicia-se uma comovente história de amizade e respeito capaz superar qualquer espécie de preconceito e arrefecer as mais contundentes diferenças ideológicas.

Na história, Diego acolhe David em seu mundo e o ensina sobre tolerância, liberdade, amor e amizade – além da literatura, paixão que se lhes revela comum – , enquanto o jovem comunista, com sua inquietude e entusiasmo, resgata em seu tutor os sentimentos de esperança e de perspectiva que há muito lhe haviam desaparecido, dadas as vicissitudes e reveses que o fizeram descrer das pessoas e da sociedade que o hostiliza por sua condição de homossexual assumido e de artista dissidente.

A força da amizade os faz cúmplices de um resgate mútuo do qual ambos saem humanamente fortalecidos para seguirem superando as adversidades que lhes sobrevêm cotidianamente, definindo o rumo de seus próprios destinos.

Morango e Chocolate é, ademais, uma tocante declaração de amor a Cuba. Com todas as suas mazelas e seus encantos, Cuba é o único e definitivo lar de todos os cubanos – e a história de Diego e David não deixa dúvidas quanto a isso. Entre o revolucionário fervoroso e o artista oprimido, é-nos apresentada a Cuba real, sem ufanismo nem amargura. Reside neste antagonismo a espinha dorsal deste belíssimo enredo. E os sorvetes de morango e de chocolate, por fim, são servidos em uma mesma taça chamada Cuba.

Morango e Chocolate (Fresa y Chocolate) é uma coprodução cubano-mexicano-espanhola, dirigida por Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío. Premiado em Berlim e Gramado, é, até hoje, o único filme cubano a concorrer ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, em 1995.

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