Encerrei, essa semana, a leitura de Homem Invisível, do
escritor norte-americano Ralph Elison – não confundir com O Homem Invisível, a
célebre ficção científica de H. G. Wells.
Este homem invisível de que falo é um jovem estudante negro,
do sul dos EUA, muito sagaz e inteligente, que migra para Nova Iorque por
forças circunstanciais que não lhe oferecem alternativa senão a de subir para o
norte e instalar-se no Harlem, gueto afro-americano da Big Apple. Sua condição de negro e pobre o faz vítima de toda a
sorte de preconceitos e injustiças, e sua luta por uma realidade alternativa,
não só para si, mas para os seus iguais, fá-lo perceber, e até mesmo aceitar, a
invisibilidade social que lhe é imposta por uma sociedade inumana e doente.
A história é de um realismo perturbador e, embora transcorra
nos anos quarenta do século passado, pode facilmente ser contextualizada no
tempo presente, uma vez que versa sobre um das moléstias mais abjetas e absurdas
de que padece nossa sociedade contemporânea: o racismo. O racismo ostensivo e
franco, o racismo sutil e velado, o racismo aliado ao preconceito de classe, de
gênero, de orientação sexual. A invisibilidade social faz suas vítimas nas mais
variadas formas e matizes. O racismo é uma das mais violentas.
Ao protagonista não é atribuído nem sequer alcunha! O
personagem, pasmem!, não tem nome, e nisso o autor – também negro – acerta com precisão cirúrgica, logrando
fazê-lo invisível até mesmo a nós, leitores, que o acompanham intimamente em sua
trajetória errante, página após página, sem sequer poder referi-lo nominalmente.
Com esse artifício genial – o anonimato –, Elison ergue uma muralha
intransponível entre o leitor e seu personagem, evidenciando ainda mais a
invisibilidade, insignificância e vileza de seu protagonista anônimo. Afinal, é
apenas um negro.
Um livro inegavelmente relevante que todos, em que pese a
cor da pele, devem conhecer. Lê-lo, e compreendê-lo, é um exercício necessário
de empatia que nos fará pessoas melhores.
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