sábado, 3 de abril de 2021

NÃO É SOBRE POLÍTICA



Não, senhores. Não costumo romper relações, com quem quer que seja, em razão de diferenças políticas, ideológicas, partidárias. Aliás, o embate de ideias, por antagônicas que sejam, é algo que sempre me encantou, pois, de minha parte, sempre colho frutos, eis que ponho minhas convicções à prova, exercito-as e as depuro, refino os pensamentos e a precisão argumentativa. Não raro, sucumbo às argumentações contrárias e mudo de ideia, revejo posicionamentos, sem problema algum. Mesmo “vencido”, saio-me vencedor.
Agora, caríssimos, precisamos entender com clareza o que é política. Ou, neste caso, o que não é. 
Afirmar que os negros quilombolas não servem nem para procriar não é política. É racismo.
Tampouco é política prescrever agressão física para a “cura” do filho gay. Isso é homofobia ou LGBTfobia.
Declarar que mulher feia não merece ser estuprada, sugerindo que há as que mereçam, também não é política, não. É misoginia.
Mandar jornalista, no exercício legal de sua profissão, “calar a boca” não é política. É despotismo.
Acenar com a panaceia da posse irrestrita de armas de fogo a um povo que não tem o que comer, tampouco onde morar, não é, obviamente, política. É engodo.
Induzir as pessoas a um tratamento precoce, com medicamento comprovadamente ineficaz, cujo uso irresponsável pode até mesmo redundar em óbito, não é política. É homicídio.
Rechaçar a ciência, menosprezar o uso de máscara e o isolamento social diante do cenário catastrófico que se nos apresenta, igualmente, não é política. É genocídio.
Não é política recusar, de maneira inconsequente e, em grande medida, paranoica, a oferta de vacinas que poderiam salvar a vida de milhões de brasileiros. Isso é uma ignomínia.
Por fim, dar de ombros à tragédia humana por que passamos, zombando da dor dos que sofreram perdas importantes, cuspindo-lhes na cara um hediondo “e daí?”, vomitando piadinhas infames sobre uma doença que está arrasando o planeta, definitivamente, meus caros, não é política. É escárnio.
E se você, porventura, defende, apoia ou se omite em relação a quem promove tais atrocidades, falta-lhe humanidade tanto quanto lhe sobeja vileza. Não quero ouvir seus argumentos, que só farão alimentar o meu ódio, o meu asco e a minha tristeza. 
Portanto, caso eu não lhe tenha excluído de minha vida, exclua-me da sua, pois, se eu não o fiz ainda, foi por pura distração ou falta de tempo, jamais por indulgência.
Não é sobre política. É sobre ser humano ou não.

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