sábado, 17 de maio de 2003

Aí, Tamagochi! Me deve, com esta, duas caixas de cervejas (de garrafa, hein!). Que tal mais uma apostinha? He, he, he...



A gente somos?



Caro professor Moreno: a expressão "a gente", tão comumente usada hoje em dia, trata-se de um terrível mau uso da língua ou é apenas uma cacofonia (pois dói no ouvido)?. Grato. Rubens José Gualdieri Junior - Campinas (SP).



Meu caro Rubens: mas que maneira de colocar a questão! Do jeito que escreveste, ou matas, ou enforcas! A Retórica alertava para esses falsos dilemas, que não deixam saída para o interlocutor: "tu ainda bates na tua avozinha, ou resolveste agora ter pena da pobre velhinha?". Nota que, seja qual for tua resposta, estarás admitindo uma atitude lamentável contra a terceira idade. "A gente" é um "terrível mau uso" ou "apenas uma cacofonia"? Sentiste a maldade? Acho que em parte é bom, em parte é ruim, Rubens. A força com que "gente" entrou no Português quotidiano parece revelar que temos necessidade de uma forma assim - um impessoal, como o "on" do Francês, para substituir o nós, que é muito mais particularizado. Nota que, do ponto de vista flexional, gente tem a vantagem de usar a 3a. pessoa do singular, a mais simples e menos marcada de todas: "a gente decidiu", "a gente precisa entender", etc. O problema que começa a surgir, no entanto, reside na escolha dos pronomes (pessoais e possessivos) que irão fazer companhia a gente, devido a seu emprego no lugar do nós: "a gente trouxe nossos ingressos", "a gente precisa entender nosso pai" - aí sim, Rubens, exemplo de mau uso (já não sei se "terrível"...). Vamos ver como o sistema vai resolver essa; entender uma língua é, antes de mais nada, observar as tendências naturais que ela decide seguir. Abraço. Prof. Moreno

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