segunda-feira, 23 de junho de 2003

Muitas vezes, ao escrever, falta-nos a palavra, o verbo, o adjetivo, ideal para ser preenchida a derradeira lacuna que dará vida à nossa frase. É espantoso o sentimento que subitamente invade-nos a alma, causando-nos até calafrios, de que só existe um único e exato termo que dará luz e sentido ao que estamos querendo exprimir no momento, e que a sua substituição por um sinônimo qualquer, por mais semelhante e perfeito que este seja, não torna suficientemente claro o que queremos transmitir e não o faz de maneira que nos satisfaça a pleno. Pomo-nos na obrigação de encontrá-lo e resgatá-lo ao nosso convívio, custe o que custar. E vá gramáticas e dicionários! Escrever é como montar um quebra-cabeça em que o bom-gosto e o conhecimento da língua nos guiam para que encontremos a única palavra que poderá se encaixar perfeitamente no contexto idealizado, do contrário, a frase fica inevitavelmente capenga, desagradável e soa muito mal; o quebra-cabeça fica disforme e a imagem não é transmitida com todo o seu devido esplendor. E como é maravilhoso quando, quase que automaticamente, o adjetivo preciso e justo, o verbo exato, o substantivo mágico (os únicos que caberiam) brotam-nos à mente! É quase um orgasmo lingüístico. Quando tal acontecimento sobrevém percebemos que a peça só poderia ser aquela ali mesmo. Encaixe perfeito!

Que ato prazeroso o de escrever! Sem escrever, eu não percebia estas nuances da língua e não desfrutava dos seus deliciosos meandros. Só entende quem escreve. Paulatinamente, vou concluindo o meu quebra-cabeça - mas não é fácil!

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