segunda-feira, 22 de setembro de 2003

De súbito, quando menos esperamos, o passado vem à tona sob a forma de irrefutável presente. É inevitável, todos sabemos, mas não queríamos crer que ocorreria tal visita - a despeito de todas as evidências indicarem que, mais dia, menos dia, aconteceria. E vem trazendo consigo lembranças que equivocadamente supúnhamos esquecidas e varridas de nossa mente. Algumas boas, outras ruins; algumas maravilhosas, outras trágicas. Lembranças do passado que permanecem claras e nítidas em nosso íntimo e que, por mais que as ocultemos de nós mesmos, agitam-se freneticamente em nosso subconsciente e nos fazem ser o que somos hoje. Talvez não nos apercebamos disso, mas somos resultado concreto - e, por vezes, mal-acabado - do nosso passado, em síntese: somos produto de nossa própria trajetória de vida.



A distância entre o presente e o passado não é geográfica ou física, é metafísica e transcende a lógica com a qual estamos habituados a regrar nossas vidas. Assim como o ontem pode estar infinitamente distante do agora, o hoje pode estar intimamente ligado ao passado mais remoto que podemos imaginar. É ilógico, mas é real! O tempo é paradoxal. Não tentemos entendê-lo, sob pena de sermos engolidos por ele.



Quem viveu tem passado, e foi através dele, e não poderia ser de outra forma, que caminhou rumo ao presente. Estamos umbilicalmente ligados ao passado, tenha ele decorrido há dez minutos atrás ou há dez anos. É difícil admitir tal fraqueza, admitir a incapacidade de nos desvencilharmos de algo que supostamente já acabou. E é aí que reside o grande engano: o passado não acaba, no máximo passa. Ao entendermos e aceitarmos tal condição, sossegaremos e desistiremos da ingrata e dolorosa tarefa de negarmos e fugirmos de nossa história decorrida - seja ela uma surreal história kafkiana ou um belíssimo conto de fadas - e compreenderemos que não é demérito algum mantermo-nos ligados ao nosso passado, mas sim uma sublime virtude. Tal tentativa de fuga será sempre vã e infrutífera, haja vista que somos hoje o que fomos ontem, indiscutivelmente.



O passado visitou-o hoje? Parabéns, você viveu.

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