sábado, 13 de setembro de 2003

ENQUANTO ISSO, NOS BASTIDORES DO PODER...

Papo às escondidas (dois tecnocratas neoliberais, pertencentes a quadros do alto escalão de governo de alguma nação latino-americana, discutem acerca dos problemas sociais de seu país).

- E então? O que faremos com os nossos pobres, que estão passando fome, sem escola, sem assistência médica nem social?

- Não esquenta, deixa a coisa rolar. Tudo há de se ajeitar. A nova onda, agora, é "criminalizar".

- Como assim!? Não entendi.

- Criminalizar, meu caro! Explico: o que faria você se estivesse na mesma situação em que se encontra o nosso povão? Desempregado, passando fome e desesperado.

- Se não houvesse jeito, seria capaz de roubar para sobreviver.

- Bingo!! Matou a charada.

- Matei!?!?

- Claro! Primeiramente, os deixamos à míngua, sempre fazendo uso da velha e surrada - mas sempre eficiente - desculpa de que é um problema conjuntural e que o mundo todo passa por dificuldades semelhantes.

- Tá, e daí?

- Daí, acreditando nisso, as pessoas acomodam-se em seus problemas até não os suportarem mais. O seu instinto de sobrevivência, inevitavelmente, os fará cometerem algum crime ou delito para que continuem vivos, sem falar que a mídia, nossa grande aliada, desperta nas pessoas novas necessidades - que até então não existiam - incitando-as a suprirem-nas de qualquer forma...

- ...e assim a justiça as coloca na cadeia! Genial, cara! Como não havia pensado nisso!

- Criminalizar, meu caro. É mais fácil e mais barato. E o povo gosta é de ver bandido na cadeia, sem se importar com os motivos que o levaram a cometer tal delito. Eles vibram com isso! Isso quando não preferem vê-lo morto.

- Mas não é imoral, não?

- É legal: basta! Roubou, vai em cana! Todos têm o dever de conhecer a lei e se cometem crimes serão punidos de acordo com os seus rigores. É a justiça posta em prática numa nação fartamente provida de eqüidade.

- É, tem razão.

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