sexta-feira, 21 de abril de 2006

UM DEVANEIO SOBRE POESIA

A poesia, no seu lirismo essencialmente altruísta, sutil e gentilmente, deixa-nos instigantes e intrigantes lacunas para que encaixemos ali o nosso verso metafísico. Ao meu ver, esta é a incontestável vantagem que a poesia leva sobre a prosa. Enquanto esta se arvora na malograda missão de dizer tudo, tão-somente aquela assim o faz com plenitude, mas sem palavras, apenas indicando-nos - ou sugerindo-nos - um caminho a ser trilhado. De resto, completamo-nos e a completamos nas nossas mais íntimas idiossincrasias. Esta incompletude da poesia é que lhe confere um brilho maior.

Todo amante da boa poesia é, inexoravelmente, um poeta em potencial, embora muitas vezes sequer faça idéia de seu lirismo intrínseco e latente. Para admirar a pleno um poema, é preciso interpretá-lo, e para assim fazê-lo é imprescindível que preenchamos as lacunas com a nossa própria poesia - em muitos casos, de sentido diametralmente oposto ao que tencionou exprimir o poeta -, o que nos faz co-autores de toda e qualquer obra lírica que admiramos.

Na poesia, ao invés de limitarmo-nos ao restrito e acanhado campo das palavras, transcendemos ao vasto e infinito universo dos pensamentos.

P.S.: estranhamente, fiz uso do gênero menor para explicar o maior, respectivamente, a prosa e a poesia. Sutilidades do ofício de poeta.

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