quinta-feira, 3 de julho de 2008

LEI SECA




Demorei-me, mas cá estou. Não poderia abster-me de dar a minha opinião sobre a tão polêmica Lei Seca, uma vez que a referida interfere diretamente nos meus hábitos etílico-comportamentais de até então.

De antemão, sou contra, especialmente nos moldes em que se apresenta. Sou contra, na essência, pois ela criminaliza em vez de educar - assim como, por razões análogas, ponho-me contrário a qualquer sorte de cotas, mas essa é outra longa e polêmica história. Mas aceito-a, em caráter emergencial, diante do sangue que vem tingindo nossas rodovias. Apenas proponho-lhes um singelo questionamento no intuito de aferir a justeza da mencionada lei.

É sabido que uma considerável parte dos acidentes de trânsito estão diretamente relacionados ao consumo excessivo de álcool. Esta é uma realidade irrefutável e estatisticamente comprovada. A minha dúvida reside no seguinte:

Quantos desses condutores alcoolizados, ao protagonizarem um acidente de trânsito, encontram-se em estado crítico de embriaguez, extrapolando em muito os atuais limites impostos pela lei? E quantos, por sua vez, haviam ingerido responsavelmente uma quantidade modesta de álcool (uma cerveja ou um cálice de vinho) em um jantar com a família? Acredito que muito poucos, ou nenhum, enquadrar-se-iam no último cenário, pois estes, raramente, envolvem-se em acidentes de trânsito, tampouco os provocam. Os grandes atores dos espetáculos dantescos a que assistimos diariamente em nossas estradas, acredito eu, são aqueles do primeiro cenário proposto.

Creio que respostas a estas indagações evidenciariam claramente que o motorista irresponsável - tanto na condução do veículo como na ingestão de bebidas alcoólicas - é o verdadeiro protagonista da violência no trânsito, mas, em ambos os casos acima referidos, em se comprovando a ingestão - exagerada ou moderada - a punição é rigorosamente a mesma.

Há que se reduzir a violência no trânsito! Concordo. Mas, para isso, deve-se combater a verdadeira causa. Por que não uma progressividade nas punições? É injusto que dois cálices de vinho penalizem-me com o mesmo rigor de uma caixa de uísque circulando por minhas artérias!

Ao meu ver, o comportamento responsável é inerente à própria pessoa, independentemente da substância sob cujo efeito esteja. O motorista consciente bebe socialmente e dirige defensivamente, já o mau motorista, mesmo sóbrio, conduz seu veículo como uma arma, ofensiva e irresponsavelmente.

Discordas? Então, comenta!

2 comentários:

Anonymous disse...

Eu sou a favor das cotas e da lei seca. Acho que ambas iniciativas modificam, favoravelmente, estatísticas historicamente perversas de nosso país. Quanto à "lei seca", concordo contigo que os bons estão pagando pelos maus, mas, infelizmente, não vejo outra alternativa...

Max

Sergio disse...

Como sempre, o nosso blogueiro arrasa no colóquio e na beleza literária. Tanto, que quase lhe escapa a usual sensatez. As cotas são outro capítulo, às quais sou amplamente favorável, que venha a crítica. Quanto a Lei Seca, já era tempo de alguma atitude corajosa de nossas autoridades.
Quem, de forma consciente, altera etilicamente a própria capacidade de conduzir com segurança seu veículo, pondo em risco os demais cidadãos, e não quer ser punido por tamanha irresponsabilidade, realmente necessita repensar sua sociabilidade, sua cidadania. Não havendo como medir de forma precisa, como o álcool e suas quantidades afetam cada organismo individualmente, há que se impor medidas coercitivas drásticas, pois as vidas ceifadas, por si só, valem muitos mais que a mais vã liberdade questionada pelo amigo, de beber e dirigir, por mais que cada um confie no seu próprio potencial para tal.
Enfim, se beber (qualquer quantidade), não dirija. Mas me convide, que eu pago o taxi.