quarta-feira, 9 de junho de 2010

DECEPÇÃO

Desta vez, como nunca antes o fizera, ela o havia conseguido magoar profundamente. Não que ele, até ali, houvera se mostrado um ser insensível e indiferente, passando incólume pelas intempéries comuns a todo relacionamento. Longe disso. Ele sentia até demais, mas relevava os arroubos de agressividade e crueldade com que ela, vez por outra, alvejava-o levianamente.

Mas neste episódio ela se superara.

E não fora pelo teor da agressão. Este era raso e calunioso e, conseqüentemente, inócuo - e ela, em seu íntimo, sabia muito bem disso. O que realmente o havia ofendido foi o quão baixo ela fora capaz de descer para, tão-somente, saciar o seu desejo de magoá-lo. A ofensa, em si, não o atingira, posto que vazia, embora impregnada de veneno. O que o desmontou havia sido a pequenez de caráter que a fizera lançar mão, na maior sem-cerimônia, de um ataque preconceituoso e maledicente, em que pese a sua inconsistência, para tentar feri-lo profundamente.

Ela tentara, através do ardil da dissimulação, fazê-lo acreditar que ela própria cria no teor das ofensas que lhe direcionava, quando era evidente, para ambos, a inverossimilhança das mesmas. Cena patética. A torpeza da tentativa malograda foi o que mais o enojou - e o assustou, vindo de quem veio. Não feriu pelo teor, mas sangrou pelo gesto.

Nenhum comentário: