quarta-feira, 11 de maio de 2011

ENCANTOS

Dona Adélia não mais se encanta com Paris, capital francesa que a recebia, no mínimo, duas vezes ao ano em jubilosas e dispendiosas visitas. Encanta-a, agora, seu primeiro neto, de três meses incompletos. Há quase noventa dias a cidade-luz de Dona Adélia anda às escuras.

Larissa nunca foi a Paris, não tem filhos, tampouco netos, mas tem-se encantado sobremaneira com a leitura de O Vermelho e o Negro. Seus livros são, por enquanto, seus únicos filhos que, nessa condição, não fazem senão encantá-la.

Zé da Viola, dia desses, num arroubo de melancolia, desencantou-se com o seu próprio samba. Este, por sua vez, continua encantando a tantos e tão profundamente a ponto de fazer com que o desencanto de Zé não faça sentido algum - mas Zé é teimoso. A despeito do desencanto, Zé da Viola canta e ainda encanta a todos que o ouvem.

Encantam-me dois pares de olhos verde-azuis, e me determinam. Sei que, sob suas vigílias acolhedoras, torno-me melhor. Tento corresponder à altura, mas, quando estou quase alcançando o cume, resvalo e despenco ao chão, mantendo-me inerte até que me ressurjam forças para retomar a empresa. Talvez essa sísifa tarefa seja a chave do encantamento. Dois lindos pares de olhos verde-azuis: eles são a minha cidade-luz, o meu romance épico, o meu samba-canção, a razão das minhas razões.

Encantos...

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