domingo, 24 de julho de 2011

PRIMEIRAS IMPRESSÕES DE UM FÃ LEIGO

Um breve chio como prenúncio, um I tônico, porém discreto, e um corte seco e conclusivo: CHICO.

O título do mais recente disco de Chico Buarque não poderia ser mais apropriado. Sintetiza com plenitude o teor lírico e minimalista do álbum, onde a concisão se faz presente até mesmo na quantidade de faixas: apenas dez - a qualidade sobrepondo-se à quantidade, mais uma vez.

CHICO (2011) ratifica definitivamente o viés literário e romântico que o autor vem imprimindo às suas canções já há algum tempo, o que nos faz recordar do Chico político e engajado com uma certa nostalgia. É uma obra de pouca firula, nenhuma pirotecnia e um lirismo comovente. As canções são de uma sonoridade desconcertante, podendo-se perceber nitidamente cada instrumento com seus timbres característicos, cada nota e cada pausa. As melodias, como em As Cidades (1998) e Carioca (2006), são complexas e pouco "orelháveis", exigindo um pouco mais do que uma primeira audição para serem decifradas e bem saboreadas. As letras, em momentos, desafiam saborosamente a prosódia e a boa métrica, o que, embora gere um estranhamento inicial, leva-nos à conclusão, após nos aproximarmos delas, de que não poderia ser de outra forma sem perder boa parte da beleza. Enfim, um primor. Deguste-o sem parcimônia.

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