Desconcertou-me a expressão "aristocratas
de província", proferida por
Bazárov, personagem central
do romance Pais e Filhos,
do russo Ivan Turguêniev, cuja leitura
encerrei a pouco e recomendo. O dito, por si, já
me bastaria para valer
a leitura, embora o livro
vá muito além dele, o
que o torna uma obra
literária valiosíssima.
A condição de aristocracia
de província outorgada por
Bazárov, um jovem estudante
de medicina e um niilista inveterado,
às pretensas altas castas
interioranas da Rússia qualifica com perfeição
e requinte as classes
afetadas e esnobes com
as quais deparamos até
mesmo nos mais
longínquos vilarejos,
nas mais distantes aldeias,
nos arrabaldes do mundo
(e também aqui, na minha cidade, a teuto-riograndense Taquara do Mundo Novo). E nessas inimagináveis terras
de cegos, ciclópicos seres
prevalecem-se, supondo-se reis. Reis
cuja mísera majestade
se sustenta tanto pela
própria vaidade quanto
pela ignorância de seus
súditos. É pateticamente verdadeiro.
A grande literatura
é assim: sempre
encontramos um fragmento
de nós mesmos nela.
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