quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ARISTOCRATAS DE PROVÍNCIA


Desconcertou-me a expressão "aristocratas de província", proferida por Bazárov, personagem central do romance Pais e Filhos, do russo Ivan Turguêniev, cuja leitura encerrei a pouco e recomendo. O dito, por si, já me bastaria para valer a leitura, embora o livro vá muito além dele, o que o torna uma obra literária valiosíssima.

A condição de aristocracia de província outorgada por Bazárov, um jovem estudante de medicina e um niilista inveterado, às pretensas altas castas interioranas da Rússia qualifica com perfeição e requinte as classes afetadas e esnobes com as quais deparamos até mesmo nos mais longínquos vilarejos, nas mais distantes aldeias, nos arrabaldes do mundo (e também aqui, na minha cidade, a teuto-riograndense Taquara do Mundo Novo). E nessas inimagináveis terras de cegos, ciclópicos seres prevalecem-se, supondo-se reis. Reis cuja mísera majestade se sustenta tanto pela própria vaidade quanto pela ignorância de seus súditos. É pateticamente verdadeiro.

A grande literatura é assim: sempre encontramos um fragmento de nós mesmos nela.

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