domingo, 1 de janeiro de 2012

URUGUAI


Jose "Pepe" Mujica
O Uruguai, nosso simpático vizinho do sul, é um país que, tanto quanto o Brasil, sofreu com a espoliação desmedida de seus colonizadores europeus - tanto espanhóis como portugueses, com a Colônia de Sacramento - e padece até hoje sob os efeitos nefastos desse esbulho. No entanto, diferentemente de nós, combate-os, rechaçando a herança dos jugos imperiais.

Ah, os uruguaios! Invejo-os, sinceramente, não só por possuírem o terceiro maior Índice de Desenvolvimento Humano da América do Sul (0,783) - ficando atrás somente do Chile, com 0,805, e da Argentina, com 0,797 de IDH, e à frente do Brasil (0,718) -, não só por ostentarem a maior taxa de alfabetização do continente, com 97,9% da população com idade superior a quinze anos alfabetizados (a do Brasil é de 90%), mas também por serem um povo cheio de brio, não aculturado, e cujas entranhas não foram tomadas pelo famigerado American Way of Life. O Brasil, por sua vez, não passa de uma servil sucursal estadunidense, essencialmente nos aspectos cultural e comportamental.

Invejo-os, mais ainda, por terem elegido um chefe de governo, José Alberto Mujica Cordano - mais conhecido com Pepe Mujica -, genuinamente de esquerda, expoente na luta contra a ditadura civil-militar uruguaia (1973-1985), e que, para a alegria do povo uruguaio e relativa surpresa minha, depois de eleito, não traiu a sua história.

E invejo-os, por fim, pela notícia abaixo, extraída do Correio Braziliense:


Publicação: 28/12/2011 10:32

Montevidéu - O Senado uruguaio aprovou na madrugada desta quarta-feira, em sua última sessão do ano, um questionado projeto de lei para criar um imposto a proprietários de mais de 2 mil hectares, com o objetivo de combater a concentração da terra.

O projeto - impulsionado pelo presidente José Mujica - foi aprovado por 16 votos de 27, apenas com os votos da governante Frente Ampla (FA, esquerda), e, como já havia sido aprovado em novembro pela Câmara de Deputados, passou ao Poder Executivo para sua promulgação.

O chamado Imposto à Concentração de Imóveis Rurais (ICIR) prevê uma taxa anual de 67 Unidades Indexadas por hectare (cerca de 8 dólares) para as extensões de terra entre 2 e 5 mil hectares; de 100 Unidades Indexadas (12 dólares) o hectare para aquelas extensões entre 5 e 10 mil hectares, e de 135 Unidades Indexadas (16 dólares) o hectare para as propriedades superiores aos 10 mil.

Em todos os casos, serão tributadas aquelas terras com um índice Coneat (utilizado para medir a qualidade do solo) superior a 100 ou equivalente; ou seja, 3 mil hectares com índice 60 não pagariam, mas 1500 hectares com índice Coneat 200 o fariam.

Em sua exposição de motivos, o projeto sustenta que, em dólares correntes, o valor do hectare se multiplicou por nove em 20 anos, e que em dólares constantes se multiplicou por quatro, enquanto esta valorização da terra não se refletiu em nível fiscal.

Segundo os cálculos do governo, o novo imposto afetará menos de 1.500 dos mais de 50.000 produtores do país, que possuem um terço dos 17 milhões de hectares cultiváveis ou produtivos de todo o território.

O governo acredita que o imposto permitirá arrecadar cerca de 60 milhões de dólares anuais que serão destinados a obras de acesso ou de estradas rurais nos departamentos do interior.

O polêmico imposto foi apresentado no dia 22 de agosto pelo governo, após meses de debate dentro da governante Frente Ampla (FA, esquerda) entre os setores que apoiavam o presidente Mujica, que buscavam sua aprovação, com os grupos que respondem ao vice-presidente Danilo Astori.

Enquanto isso, aqui, no paraíso da subserviência, o latifundiário continua intocável.

Nem todo(a) ex-guerrilheiro(a) de esquerda que penou na mão de torturadores e tiranos e, posteriormente, chegou democraticamente ao poder máximo de uma nação, usa seu vasto e emblemático currículo como salvo-conduto para, com o respaldo esmagador de um parlamento submisso e venal, praticar, ele(a) próprio, a tortura (sob novas formas) e a tirania. Lamentavelmente, em alguns lugares isso acontece - e nós sabemos onde.

Nenhum comentário: