sexta-feira, 25 de outubro de 2013

GURI CAGÃO!


Abaixo, segue o poema - belíssimo, por sinal - que conquistou merecidamente o 1º lugar na categoria Poema no XII Concurso Literário Faccat/Jornal Panorama. Na sequência, vem o poema com que este acovardado versejador que cá escreve tencionava concorrer no referido certame, e que, por esquecimento voluntário do poeta (cagão), ficou relegado ao fundo de uma gaveta, e, de lá, só saiu para se fazer lembrar após o término do prazo para as inscrições.

(Tu és um cagão, Leonardo! Sei lá... talvez um honroso 2º ou 3º lugar - que o 1º, eu sei, já tinha dono.)

A Marina, no singular; eu, no plural. Ambos com muito medo – e lirismo.

Primeiro o da Marina:

MEU MEDO
Marina Vieira Basei

Meu medo
Pode ser a fuga
Da justa verdade
Do mal que assusta
Do grito de dor
Da falta de fé
Da desigualdade.

Medo, da desilusão
Da máscara traiçoeira
Da falta de amor
Dos sonhos perdidos
Dos olhos sem brilho
Da inútil cegueira.

Medo, da indiferença
Da massa falida
Da morte do verde
Do rio que secou
Da ganância humana
Destruindo a vida.

Medo, de não ter lutado
Como um vencedor
De não ter coragem
De enfrentar o mundo
Deixando sua marca
Com gestos de amor.

Medo, da guerra infinita
Sem paz nem perdão
Da ingrata mentira
Que fere o inocente.
E o amor não florir
Em seu coração.

Agora, o meu:

MEUS MEDOS
Leonardo von Mühlen

Em cada gesto meu, um medo meu se manifesta
Alguns, contraveneno do que em mim não presta
Pondo-me limite, impondo-me a reprimenda indigesta
Outros, medo real, medo vivo
Respeitoso, resignado e conclusivo

Se sou cruel – que em muitas sou
Temo a intervenção da consciência
Que faz doer o que não doeu quando devia
E faz rever com olhos que não havia
Prescrevendo-me a indulgência

Numa contenda ocasional, digamos
Dessas triviais por que passamos
Temo ter razão sem merecê-la
Servir-me dela e aplicá-la com frieza
Pra vaidade vencer por fora
E a vergonha derrotar por dentro

No sarcasmo disparado
Com intuito e alvo certo
Meu medo é que o coração alvejado
Seja bom e maior que o meu gracejo
E me cuspa um contragolpe benfazejo
Temo que o revide, em vez do murro, seja o beijo

No amor,  meu medo é amar de menos
E, também, meu medo é amar demais
Se de menos, sou indiferente
Se demais, subserviente
No amor, em suma, meu medo é errar
Medos à parte, vou amando, assim, sem acertar

Sorriu-me a sorte, de repente
Meu medo, então, é dar de ombros ao azar, subestimá-lo
Desdenhar o azar é reclamá-lo

Meu medo, na dor, é doer mais forte
Depois que a dor passar
E depois de doer mais forte, acreditar
Que a dor que vem depois vem pra ficar

À noite, meu medo é o pesadelo em vigília
A insônia, amada e indesejada filha
Que teima em dormir comigo
Põe espinhos nos lençóis
Inquietação em meus cochilos
E desespero em meus arrebóis

Na vida, meu medo é viver sem navegar
Pois viver é de uma exatidão patética
Viver é preciso, navegar é impreciso
Viver é inércia, navegar é impulso
Viver sem navegar é quase um insulto

Por fim, se sinto medo, meu medo é mais
Bem mais que qualquer medo confessado
No medo, o medo me envergonha de senti-lo
Nele, eu me acovardo e me aniquilo
De medo de que o medo dê-me a paz
De um medo traduzido em “aqui jaz...”.

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