sábado, 26 de outubro de 2013

VIDA PREMENTE

Levava uma vida premente
Tudo havia de ser pra ontem
Tudo era urgente
Suas metas, ambições
Seus sonhos, suas resoluções
Tudo pra ontem, sem protelações
Amanhã era sempre tarde demais

Ontem ela morreu. Atropelada
No afã de atravessar a rua
Desatenta e apressada
Pois pisar no passeio oposto era também pra ontem
Chovia, e a van, alucinada
Cuspia alunos uniformizados pra anteontem
Foram vãs a buzina e a freada
Hoje nunca foi a tempo
O agora foi a destempo

Ontem, o prazo expirou
E ela despediu-se de tudo que sempre fora pra ontem 
Ontem, nada aconteceu
Ontem, ela só morreu
Depressa; de pressa de viver
E morrer, na sua conta, não era pra ontem
Mas, na insondável conta do acaso
Era ontem o derradeiro prazo

Hoje, estamos de luto
E o luto é paciente e metódico
Arrasta-se num tempo só seu
É infalível e cruel
E parece que não é pra ontem, nem pra hoje
Parece que é pra sempre
Choramos
Chove: chora também o céu
Num pranto de tresantontem.

Nenhum comentário: