Eis que, enfim, chegou o Natal! Circunstante involuntário da
atmosfera hipócrita destes dias, observo, consternado, a aura do consumismo
brilhando intensamente nas pessoas tristes que se fingem felizes, e que consomem
por devoção às convenções estabelecidas. Em cada canto da cidade, deparo com
mensagens de amor, solidariedade, compaixão - os clássicos clichês de fim de
ano -, nobres intenções que, no entanto, são constrangidas por comportamentos
egoístas, gananciosos e arrogantes, síntese do verdadeiro espírito de Natal que
os comerciais do Zaffari, com suas historietas pra lá de piegas, tentam ocultar
anualmente.
Natal: a festa cristã que só faz sentido aos abastados; que sonega
aos desfavorecidos um lugar à mesa; que inocula na plebe a falsa esperança de
serem, ao menos neste dia sacrossanto, merecedores do olhar indulgente da
nobreza; que faz colapsar o comércio em nome do deus consumo; que nos faz presentear
a esmo e mecanicamente, num ato desprovido de quase nenhuma intenção sincera,
senão a de glorificar a excelsa data cristã. Consumamos, embriaguemo-nos e
empanturremo-nos, então!
Gostaria, sinceramente, de afogar o Papai Noel numa garrafa
de Coca-cola – mas sem prejuízo aos ratos.
Feliz Natal!
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