quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

STALKER


Ontem à noite, assisti a Stalker (1979), uma obra-prima do cineasta russo Andrei Tarkovsky. Confesso que pouco entendi do longa-metragem (e bota “longa” nisso: mais de duas horas e meia de duração), dado que não sou o que se pode chamar de expert em sétima arte, mas o filme, de alguma maneira, tocou-me. Senti-o mais do que o compreendi.

Gosto de fugir do lugar-comum, de assistir a filmes russos, suecos, franceses, e notar o quão diferentes o são dos enlatados estadunidenses - eivados de clichês nauseantes - e dos modorrentos e globais filmes brasileiros dessa nova safra, de fórmula inicialmente curiosa e interessante, mas que já se exauriu há muito.

Stalker é outra linguagem, é cinema com status de arte, não é mero entretenimento de massa. Há, na película, uma carga poética e filosófica muito presente – e desconcertante. Pincei este trecho, reproduzido por um dos protagonistas, que me causou estranhamento imediato:

Que se cumpra o idealizado.
Que acreditem.
Que riam das suas paixões.
Porque o que consideram paixão, na realidade, não é energia espiritual, mas apenas fricção entre a alma e o mundo externo.
O mais importante é que acreditem neles próprios e se tornem indefesos como crianças, porque a fraqueza é grande, enquanto a força é nada.
Quando o homem nasce, é fraco e flexível, quando morre, é impassível e duro.
Quando uma árvore cresce é tenra e flexível, quando se torna seca e dura, ela morre.
A dureza e a força são atributos da morte.
Flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser.
Por isso, quem endurece, nunca vencerá.

Filosofia e poesia num contexto de absurdo e fantasia, cuja fotografia, ora em cor sépia, ora de um colorido vivo e temperado, destaca-se como um dos pontos máximos da obra. Vale conferir. Até mesmo leigos como eu, desde que conservem em si, ainda, um resquício de sensibilidade e lirismo, podem apreciá-lo a ponto, inclusive, de recomendá-lo.

Mas se tu fores daqueles aficionados pelas superproduções hollywoodianas, ao deparar com Andrei Tarkovsky, muda imediatamente de calçada.


P.S.: filmes dessa envergadura merecem ser assistidos na versão legendada. Assim eu o fiz, ontem.

Sinopse de Stalker: após a suposta queda de meteoritos numa região do planeta, essa região adquire propriedades estranhas e é chamada de Zona. Dentro da Zona, diz a lenda ter o Quarto, que seria um lugar onde todos os seus desejos são realizados. Temendo que a população invada a Zona à procura do Quarto, o exército a isola, mas eles próprios não têm coragem de entrar nela. Apenas alguns poucos, chamados Stalkers, têm habilidade suficiente para entrar e sobreviver lá dentro. Um dia, um escritor famoso e um físico contratam um Stalker para os guiarem ao Quarto, sem exatamente saber o que procuram.

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