sábado, 12 de julho de 2014

QUINZE MINUTOS


Neste instante ela morre. Daqui a exatos quinze minutos o meu telefone vai tocar e eu, exultante e alheio a tudo, correrei para atendê-lo: certamente será ela justificando o atraso novamente, penso comigo. É quando receberei a pior notícia que pode receber quem ama. Terei de, então, começar a lidar com a dor pungente de ter perdido para sempre aquela com quem eu idealizara ser feliz... para sempre. Conseguirei?

Mas, até lá, no transcorrer deste eterno quarto de hora, para mim, que estou à revelia do trágico ocorrido, ela está viva, vivíssima (a ignorância irrompe em nossas vidas como um bálsamo, ainda que, no mais das vezes, fugaz)! E vivos estão também os nossos planos imediatos e nossas proposições mais remotas - o jantar de hoje à noite já está confirmado e a casa da praia está ainda à espera da nossa velhice. Vivos estão, ainda, nossos sonhos improváveis que, tão-só por sonharmos juntos e forte, tornamo-los reais em nosso universo onírico. Ainda sinto vivamente o olor de seu perfume pela casa e, enquanto o telefone não toca, anseio por abraçá-la e beijá-la logo ao ranger da porta. A ignorância de sua morte faz-me senti-la eternamente presente em mim por mais alguns momentos. Não em presença física, mas no meu imaginário, na minha expectativa - e que privilégio tê-la viva comigo por minutos além de sua partida; e que adorável chiste suplantar a morte, tão temida e respeitada, pelas tolas vias do não saber!

Termino a louça, quatorze minutos decorridos, sento-me um pouco no sofá a esperar por um não-sei-quê que, estranhamente, assusta-me e me angustia. Meu mundo ainda está de pé - embora o sinta um tanto cambaleante no momento -, mas ruirá em alguns segundos, ao soar da campainha do meu telef... Alô!?

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