A releitura do clássico de Dostoiévski Crime e
Castigo - cujo encerramento deu-se esta semana -, confesso, não me tocou como
há quinze anos, quando, pela primeira vez, sofri as angústias e vivi os dilemas
de Raskolnikóv, personagem principal da obra. Embora magnificamente traduzido
diretamente do russo pelo competentíssimo Paulo Bezerra (livre, portanto, dos
pecados e mutilações típicas das “traduções de traduções”), esse segundo
contato deitou-me na boca um aborrecido gosto de déjà-vu. Não que a envergadura e o peso de um dos maiores clássicos
da literatura universal tenha sumariamente se dispersado ante a apreciação
deste desqualificado leitor que ora rabisca estas linhas - Crime e Castigo,
juntamente com O Vermelho e o Negro, de Stendhal, e O Processo, de Kafka, permanece
entre os livros de minha vida, talvez com maior merecimento ainda após a reincursão -, apenas
afirmo que as cores, para mim, não brilharam tão vivas como da primeira feita. Será
que relê-lo foi o crime e estranhá-lo, o castigo. Ou será esse estranhamento a
senha para mergulhar, agora com ineditismo, nas páginas de O Idiota, do mesmo
Dostoiévski, que há tempos me desafia calado na estante, preterido em nome
desta pretensiosa releitura? A despeito do sabor repetido, sempre recomendo infinitas releituras
dos clássicos, pois nunca se é o mesmo após fazê-lo.
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