domingo, 30 de outubro de 2022

AMANHÃ



Amanhã, faça chuva ou sol
a previsão é tempo bom
tempo de alívio e desafogo

Amanhã, eu vou voltar a respirar
sem constrangimento
Vou encher os pulmões
e pronunciar palavrões
os mais obscenos que puder inventar
Mas, também, vou cantar, e gritar, e transbordar...
e respirar – há muito que não me embriago de ar puro!

Amanhã, eu vou esquecer os grilhões em casa
e sair de cabeça erguida, no limiar da soberba
Em meus pés, brotarão asas
Estarei leve, flutuarei

Amanhã, eu vou me despir de um fardo pesado
e vou distensionar cada músculo contraído
Vou rir-me da ansiedade e desdenhar da angústia
Amanhã, meu sangue – vermelho – volta a circular
E o coração, a bater com vigor, a lembrar-me que sobrevivi
e que tantos, também, sobreviveram comigo

Amanhã, vou acordar de um pesadelo
mas não pretendo esquecê-lo!
Vou tentar, com pouco empenho, fingir que ainda respeito alguns
mas fracassarei, por certo
e aqueles que eu respeito, vou querer por perto

Amanhã, devo chorar!
Chorar tudo que não chorei
Chorar todo o ódio de que me alimentei
para ter forças de suportar e de lutar
mesmo quando não havia mais forças
Chorar o pranto que represei para ocultar o medo
que não foi pouco, confesso
Amanhã, poderei ser fraco, novamente
Amanhã é o dia do expurgo!

E hoje?
Hoje eu vou beber
e dormir como há muito não o faço
Pois, hoje, é véspera de amanhã.

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