segunda-feira, 28 de julho de 2003

Se tenho medo da morte? Absolutamente. Se não me engano, foi o filósofo grego Epicuro que disse que enquanto há vida não existe a morte e quando houver a morte, já não haverá mais vida - obviamente as palavras usadas pelo grande pensador não foram exatamente estas, mas o sentido se mantém. Então por que temê-la? O que tememos, penso eu, é o que nos levará à morte, de que forma acontecerá a inevitável passagem. Se nossa alma desencarnará a golpes de sofrimento, dor, angústia, ou de uma maneira serena e tranqüila. Essa terrível incerteza nos aterroriza durante toda a nossa existência no plano material, nos acompanha dia-a-dia e nos leva a imaginar as mais diversas formas de se morrer. E é isso que, por fim, tememos: a forma como se dará a morte, e não propriamente a morte, que nada mais é do que a sua fatal conseqüência. A morte em si não é ruim, não causa dor: é o prêmio por termos vivido. Atribuímos erroneamente à morte o medo que temos de sofrer ainda em vida.

É inegável que todos nós - graças a Deus, ainda vivos - conhecemos a morte sob a perspectiva de meros espectadores, e nunca como sujeitos do evento, do contrário eu não estaria escrevendo estas mal-traçadas, tampouco vocês as estariam lendo. A perda de entes próximos, evidentemente, nos traz dor e tristeza, mas esses sentimentos afligem tão-somente os vivos, que aqui permanecem, e nunca os que partiram. Talvez por ser a morte uma grande incógnita para os homens, inconscientemente o sofrimento da perda é vinculado à morte e o elegemos "dor de morrer", o que é um grande equívoco: é a "dor de continuar vivendo".

A partir do exato instante em que nascemos, lentamente começamos a morrer, dia após dia, até que se complete o processo e se consume o ato: morremos. Comemoramos anualmente mais um ano de vida quando deveríamos lamentar mais um ano de morte. Estamos morrendo e comemorando. É irônico, não? Deveríamos, portanto, estar mais do que habituados com o nosso derradeiro instante e de modo algum temê-lo, já que convivemos irmamente com a morte durante toda a nossa vida. Se tememos a morte, tememos a vida - resta-nos apenas o suicídio.

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