sexta-feira, 17 de junho de 2005

NADA

Alguém, por favor, socorra-me, e me diga, urgentemente, por que a vida é assim, tão ácida e metálica! A frieza de teus passos, à noite, quando o frio do inverno passeia ao léu, queima os meus ossos, e chego a cogitar, farto de desesperanças, de que nada vale a pena. Nada: esta é a palavra que diz tudo e, ao mesmo tempo – já que esta é a sua acepção primária –, diz nada. Se o rumo traçado por nossos próprios compassos e esquadros – muitíssimo mal traçado, admitamos – é este que se nos apresenta, como evitá-lo? Como traçar um caminho que tangencie, que contorne tal imutável destino? Sigo meus próprios passos, como que andando em círculos, e engulo o fel que o tempo – este carrasco silencioso – deposita diariamente em minha garganta, ávida por mel e esperança. Perguntas-me, então: "Como pudeste?" Digo-te: "Não sei. Apenas o fiz." E de tal forma, e com tal êxito, que qualquer tipo de arrependimento seria, neste derradeiro instante, uma heresia monumental. Sinto que minhas pernas já não me obedecem mais. Imperativas, seguem sem rumo, ou melhor, têm o seu próprio rumo a seguir, completamente distinto do meu e contrário às minhas concepções de horizonte. Conduzem-me ao fim. E o fim é o nada: o começo de tudo.

Um comentário:

Anonymous disse...

Perfeito.

Guria