A música de Paulinho da Viola representa um universo particular dentro da cultura brasileira. Experimentá-la é reconhecer que a identidade cultural brasileira não é única, há sempre algo mais.
Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem, eu vou indo, correndo, pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranqüilo, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...
Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios...
Oh, não tem de que, eu também só ando a cem
Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo, talvez nos vejamos, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...
Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer, mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso beber alguma coisa rapidamente
Pra semana...
O sinal...
Eu procuro você...
Vai abrir! Vai abrir!
Prometo, não esqueço
Por favor, não esqueça
Não esqueço, não esqueço
Adeus...
O que lhe parece, esporádico leitor, o diálogo acima, além do diálogo em si, simplório e trivial?
Um colóquio meramente casual, fruto do acaso de um coercitivo sinal vermelho?
Pois o grande Paulinho da Viola narrou o fortuito encontro sob o semáforo em 1969, no V Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, ao defender a canção Sinal Fechado, uma música experimental e diferente de tudo o que se já ouvira até então, com a qual sagrou-se - e consagrou-se - campeão do referido certame musical.
O sambista carioca pariu uma da mais belas canções da música popular brasileira quando, imbuído da clarividência própria dos poetas, deu-se conta do quão alucinado é o nosso cotidiano de vida neste mundo hostil que, diariamente, quer-nos engolir. A melodia fria e densa pincela, em cores sufocantes, um cenário impregnado de aflição e desencontro. Tudo urge. Não há espaço para as relações humanas - escassas e, quando existentes, superficiais -, tampouco para a introspecção. As pessoas são cronômetros errantes, cujos dígitos transmudam-se ensandecidamente para satisfazer alguma entidade superior, a qual desconhecem, embora a temam. O tempo é o mais impiedoso algoz.
O sinal, de súbito, fecha. Os olhares reconhecem-se e se acolhem. Seres autômatos descobrem-se, um no olhar do outro, seres humanos. Mas o sinal abre e a contagem regressiva recomeça.
Discorrer mais sobre Sinal Fechado seria desmerecer a competência da própria canção para falar de si mesma, o que ela faz com plenitude inserindo-nos numa paisagem de angústias e opressões quase surreal - em que pese, paradoxalmente, o realismo agressivo da composição.
Ouçam-na aqui:
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem, eu vou indo, correndo, pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca de um sono tranqüilo, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...
Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios...
Oh, não tem de que, eu também só ando a cem
Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo, talvez nos vejamos, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...
Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer, mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso beber alguma coisa rapidamente
Pra semana...
O sinal...
Eu procuro você...
Vai abrir! Vai abrir!
Prometo, não esqueço
Por favor, não esqueça
Não esqueço, não esqueço
Adeus...
O que lhe parece, esporádico leitor, o diálogo acima, além do diálogo em si, simplório e trivial?
Um colóquio meramente casual, fruto do acaso de um coercitivo sinal vermelho?
Pois o grande Paulinho da Viola narrou o fortuito encontro sob o semáforo em 1969, no V Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, ao defender a canção Sinal Fechado, uma música experimental e diferente de tudo o que se já ouvira até então, com a qual sagrou-se - e consagrou-se - campeão do referido certame musical.
O sambista carioca pariu uma da mais belas canções da música popular brasileira quando, imbuído da clarividência própria dos poetas, deu-se conta do quão alucinado é o nosso cotidiano de vida neste mundo hostil que, diariamente, quer-nos engolir. A melodia fria e densa pincela, em cores sufocantes, um cenário impregnado de aflição e desencontro. Tudo urge. Não há espaço para as relações humanas - escassas e, quando existentes, superficiais -, tampouco para a introspecção. As pessoas são cronômetros errantes, cujos dígitos transmudam-se ensandecidamente para satisfazer alguma entidade superior, a qual desconhecem, embora a temam. O tempo é o mais impiedoso algoz.
O sinal, de súbito, fecha. Os olhares reconhecem-se e se acolhem. Seres autômatos descobrem-se, um no olhar do outro, seres humanos. Mas o sinal abre e a contagem regressiva recomeça.
Discorrer mais sobre Sinal Fechado seria desmerecer a competência da própria canção para falar de si mesma, o que ela faz com plenitude inserindo-nos numa paisagem de angústias e opressões quase surreal - em que pese, paradoxalmente, o realismo agressivo da composição.
Ouçam-na aqui:
Nenhum comentário:
Postar um comentário