A hedionda política do Pão e Circo - da qual muitos
certamente já ouviram falar - remonta à Roma antiga, quando os imperadores garantiam
aos seus súditos o alimento e o entretenimento, provisões imprescindíveis para
apaziguar os ânimos da plebe diante do absolutismo tirânico do César. O Circo
era o evento catártico, a purgação de maus pensamentos e intenções; já o Pão
era a subsistência mais elementar. E assim o império robustecia-se sob os
olhares embotados e confiantes do povo romano.
Eis que a política do Pão e Circo vinga até os dias de hoje,
a pleno vigor, e é, cá no Brasil, o alicerce da pretensa perpetuação no poder do PT - partido
de negou a sua própria história e traiu seus eleitores, reduzindo-se a apenas
mais uma sigla em meio a esta sopa de letrinhas insossa e indigesta da política
partidária brasileira.
O PÃO nosso de cada dia é servido sob as mais variadas
formas e denominações, mas essencialmente sob o simpático e politicamente
correto apelido de Bolsa Social - quem haveria de ser contra? As bolsas sociais,
ao contrário da idéia que tentam transmitir com a adjetivação, vislumbram o social exclusivamente no próprio nome, jamais em suas práticas. As políticas
de bolsas vigentes no país - que se assemelham às esmolas dadas só para despachar
o pedinte e aliviar a consciência - arrogam-se a si a nobre condição de sociais,
embora, da forma como foram instituídas, não sejam nada além de abjetas e bem
disfarçadas políticas de ativação da economia para o regozijo do capital, uma
vez que resgatam a população miserável da classe dos não consumidores,
ofertando-lhe a real possibilidade de consumir e endividar-se, o que,
convenhamos, é uma bela manobra de concentração de renda, pois as bolsas, em síntese, são recursos do estado revertendo-se em crédito para o capitalista.
As políticas assistencialistas deveriam ser um expediente de
caráter compensatório e, sobretudo, de natureza temporária, servindo tão-somente
como um mecanismo emergencial de alívio frente à miséria absoluta (já rumamos
para doze anos de assistencialismo petista que não redundou em avanço social
nenhum aos seus beneficiários, salvo um parco incremento no seu poder de compra).
E o que faz o desgoverno petista? Aplica-as de forma ardil e eleitoreira, de modo
que, a olho nu, não se perceba que elas reproduzem a miséria, não emancipam e
condenam o pobre à escravidão perpétua, mantendo-o à margem da cidadania. Mas
claro, tudo isso com TV de led, sofá novo na sala, geladeira biplex e máquina
de lavar, que nem chega a ser, assim, uma Brastemp! A dignidade parcelada em setenta
e duas vezes, sem entrada.
O CIRCO, por sua vez, é a máquina da alienação que nos
tritura diariamente, largando-nos, ao fim do processo, no chão com um sorriso
esperançoso estampado no rosto.
O Circo se faz presente em nossas vidas nas novelas, que ditam
padrões de comportamento surreais, fazendo-nos sonhar com o impossível - que a
inverossimilhança intrínseca das novelas faz parecer possível -, fomentando-nos
expectativas e esperanças que darão em nada e que serão retroalimentadas por
muitas outras expectativas e esperanças que só findarão na frustração – mas,
nesse derradeiro instante, começa uma nova novela e a vida adquire um novo e
saboroso sentido.
O Circo, em suas moderníssimas e milionárias arenas,
expressa-se também através da bola e de muito bem remunerados atletas. Brasil,
o país do futebol... e da COPA DE 2014!!! Querem alegoria mais apropriada? Os
grandes anfiteatros romanos possuíam em sua parte central uma arena, coberta de
areia, onde se realizavam os espetáculos públicos. Ali, gladiadores e feras se
enfrentavam enquanto, nos camarotes e arquibancadas, a plebe delirava e
esquecia das mazelas diárias que lhes consumiam, esqueciam da fome, da doença,
do tributo pesado,
esqueciam o descontentamento, as desilusões, a inexistência de perspectivas
reais. O futebol é o circo pós-moderno e a COPA é o ápice do espetáculo da
bola, cujo aspecto catártico é capaz de neutralizar qualquer anseio de mudança
ou sentimento de indignação.
O Circo é também a profusão indiscriminada de credos,
templos e seitas arrancando os poucos caramiguás dos fiéis em troca da garantia de uma
vida abençoada e feliz e, a título de regalo, uma eventual cura de algum câncer
que porventura sobrevier; são também os clichês cinematográficos dos enlatados estadunidenses,
encobertos pelo azinhavre, submetendo o povo a um cruel processo de aculturação e
colonização; são os reality shows a provar que a imbecilidade humana não tem
limites; são as receitas da Ana Maria Braga e as dicas do especialista do
Fantástico sobre economia doméstica.
O Pão e o Circo redivivos e o PT mais vivo do que nunca.
Afinal, os altíssimos índices de popularidade da nossa tirânica mandatária-mor,
que seguramente a conduzirão ao seu ambicionado segundo reinado (já rumamos aos
dezesseis anos de desgoverno petista), são frutos da política do Pão e Circo. O
pobre brasileiro, assistido pelas Bolsas Sociais (o Pão) e alheio à realidade
social por conta dos mecanismos de alienação que lhe são inoculados (o Circo)
já garantem a margem de votos necessária à reeleição da atual presidente. A
economia nacional, aquecida pela injeção de recursos estatais das Bolsas
Sociais e dos grandes eventos catárticos (dinheiro público, via BNDES, para a
Copa do Mundo e Olimpíada), garante a pujança do capital financiador de
campanha, os eternos sanguessugas que não hesitam em "investir" (financiar uma
campanha vencedora é sempre um ótimo investimento, com retorno rápido e
garantido) altas montas para assegurar a reeleição da sua comprometida benfeitora.
E assim caminha o Brasil, cada dia mais refém de um desgoverno
de viés despótico, gerido por uma amontoado espúrio de siglas e capitaneado por
um partido sem ideologia, sem história e sem escrúpulos.
Pão e Circo: são necessários, mas nem de longe o suficiente.
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