domingo, 21 de outubro de 2012

MAIS DAS MULHERES DE CHICO



Um inusitado encontro de duas vidas opostas nas suas realidades, mas convergentes na dor. A beata e a prostituta - uma indo e outra vindo - encontram-se na geografia de uma madrugada qualquer, bem como no cotidiano comum das dores humanas. Ambas sofrem, choram e resignam-se - e, disso, Chico fez poesia.

A canção Umas e Outras, de Chico Buarque, foi lançada no compacto homônimo, em 1969, e é de uma atualidade desconcertante! Escutem ali no ESCUTA ESSA!

Umas e Outras (1969)
Chico Buarque

Se uma nunca tem sorriso
É pra melhor se reservar
E diz que espera o paraíso
E a hora de desabafar
A vida é feita de um rosário
Que custa tanto a se acabar
Por isso às vezes ela pára
E senta um pouco pra chorar
Que dia! Nossa, pra que tanta conta
Já perdi a conta de tanto rezar

Se a outra não tem paraíso
Não dá muita importância, não
Pois já forjou o seu sorriso
E fez do mesmo profissão
A vida é sempre aquela dança
Aonde não se escolhe o par
Por isso às vezes ela cansa
E senta um pouco pra chorar
Que dia! Puxa, que vida danada
Tem tanta calçada pra se caminhar

Mas toda santa madrugada
Quando uma já sonhou com Deus
E a outra, triste namorada
Coitada, já deitou com os seus
O acaso faz com que essas duas
Que a sorte sempre separou
Se cruzem pela mesma rua
Olhando-se com a mesma dor
Que dia! Cruzes, que vida comprida
Pra que tanta vida pra gente desanimar

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