sábado, 17 de agosto de 2013

MEUS MEDOS

Em cada gesto meu, um medo meu se manifesta
Alguns, contraveneno do que em mim não presta
Pondo-me limite, impondo-me a reprimenda indigesta
Outros, medo real, medo vivo
Respeitoso, resignado e conclusivo

Se sou cruel – que em muitas sou
Temo a intervenção da consciência
Que faz doer o que não doeu quando devia
E faz rever com olhos que não havia
Prescrevendo-me a indulgência

Numa contenda ocasional, digamos
Dessas triviais por que passamos
Temo ter razão sem merecê-la
Servir-me dela e aplicá-la com frieza
Pra vaidade vencer por fora
E a vergonha derrotar por dentro

No sarcasmo disparado
Com intuito e alvo certo
Meu medo é que o coração alvejado
Seja bom e maior que o meu gracejo
E me cuspa um contragolpe benfazejo
Temo que o revide, em vez do murro, seja o beijo

No amor,  meu medo é amar de menos
E, também, meu medo é amar demais
Se de menos, sou indiferente
Se demais, subserviente
No amor, em suma, meu medo é errar
Medos à parte, vou amando, assim, sem acertar

Sorriu-me a sorte, de repente
Meu medo, então, é dar de ombros ao azar, subestimá-lo
Desdenhar o azar é reclamá-lo

Meu medo, na dor, é doer mais forte
Depois que a dor passar
E depois de doer mais forte, acreditar
Que a dor que vem depois vem pra ficar

À noite, meu medo é o pesadelo em vigília
A insônia, amada e indesejada filha
Que teima em dormir comigo
Põe espinhos nos lençóis
Inquietação em meus cochilos
E desespero em meus arrebóis

Na vida, meu medo é viver sem navegar
Pois viver é de uma exatidão patética
Viver é preciso, navegar é impreciso
Viver é inércia, navegar é impulso
Viver sem navegar é quase um insulto

Por fim, se sinto medo, meu medo é mais
Bem mais que qualquer medo confessado
No medo, o medo me envergonha de senti-lo
Nele, eu me acovardo e me aniquilo
De medo de que o medo dê-me a paz
De um medo traduzido em “aqui jaz...”.

O poema acima foi por mim composto para concorrer na categoria poesia do XII Concurso Literário Faccat-Jornal Panorama, cujo tema era “O Mais Profundo Medo”. Acho que, por medo, perdi o prazo (dez de agosto). Mas não perdi o poema. 

Nenhum comentário: